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Após autorização da Justiça, MST chega em São Gabriel

O deslocamento dos 250 militantes da BR-290 teve de ser feito em dois ônibus e cinco caminhões e sob escolta da Polícia Rodoviária Federal, e não a pé

Por Agencia Estado
Atualização:

Os 250 sem-terra que estavam retidos no quilômetro 455 da BR-290 passaram pela barreira dos fazendeiros e conseguiram montar acampamento num terreno cedido por um simpatizante na periferia de São Gabriel, no quilômetro 316 da mesma rodovia, neste sábado. O deslocamento foi autorizado no início da noite de sexta-feira pelo juiz Belmiro Tadeu Nascimento Krieger, da Vara Federal de Santana do Livramento. Mas, por ordem judicial, teve de ser feito em dois ônibus e cinco caminhões e sob escolta da Polícia Rodoviária Federal e não a pé, como estava na programação inicial do grupo. A montagem do novo acampamento foi considerada uma vitória pela coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Irma Ostrovski. "Nosso objetivo foi alcançado porque agora estamos em São Gabriel, a poucos quilômetros da fazenda (de Alfredo) Southall, que queremos ver desapropriadas para a reforma agrária", disse. "De onde estamos, vamos ficar aguardando a autorização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar centenas de famílias na área". Os fazendeiros, que ficaram à beira da rodovia vendo a passagem dos sem-terra, também se consideraram vitoriosos. O presidente do Sindicato Rural de São Gabriel, Tarso Teixeira, disse que a mobilização da categoria evitou que os sem-terra chegassem a São Gabriel "em marcha", como prometiam, e ocupassem terras, como anunciavam em seu carro de som. Irma sustentou que a intenção da marcha, iniciada no dia 14 em Santana do Livramento, não era invadir a propriedade rural de Southall, mas pressionar o governo a desapropriar a fazenda de 13,3 mil hectares. Disputa Os sem-terra saíram de Santana do Livramento no dia 14 e iam percorrer 120 quilômetros a pé, até São Gabriel. O deslocamento foi barrado na quarta-feira por cerca de 250 ruralistas, quando os caminhantes estavam a 40 quilômetros do objetivo. Naquele dia, o tráfego pela BR-290 foi interrompido cinco vezes. A cada tentativa que os sem-terra faziam de retomar a caminhada, os ruralistas se postavam na pista, 500 metros adiante, prometendo impedir a passagem. Destacamentos da Polícia Rodoviária Federal e da Brigada Militar (a polícia militar do Rio Grande do Sul) ficaram entre os dois grupos para evitar o confronto. Preocupada com os transtornos para os motoristas, a Advocacia Geral da União pediu a desobstrução da estrada à Justiça. O juiz Krieger atendeu em liminar, proibindo avanços tanto dos sem-terra quanto dos ruralistas. Na sexta-feira, ao verificar as precárias condições em que estavam os sem-terra, acampados num local sem sombra e sem água, e informado de que havia um terreno disponível em São Gabriel, autorizou o deslocamento, impondo a condição de que fosse feito em veículos e sob escolta. A disputa pela Fazenda de Alfredo Southall pode ir para os tribunais. O MST pede que o Banco do Brasil tome a propriedade rural para executar dívidas do fazendeiro e depois venda a terra ao Incra para a reforma agrária. Southall anunciou nesta semana que já vendeu metade das terras à Aracruz Celulose por um preço que lhe permitirá pagar os débitos e seguir produzindo com a área que vai manter. Mas o superintende regional do Incra, Mozar Dietrich, advertiu que, antes de negociar com a Aracruz, o fazendeiro já estava notificado que seu imóvel passará por vistoria para verificação de produtividade, o que o impediria de transferir a titularidade da terra por seis meses. Os ruralistas gaúchos alegam que o governo federal não pode fazer vistorias em fazendas localizadas em municípios que decretaram situação de emergência durante a estiagem de 2005, como é o caso de São Gabriel.

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