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Após ato, Bolsonaro vê 'histeria' em combate a coronavírus e desafia Maia e Alcolumbre

Em entrevista à CNN, presidente disse que 'questão do vírus é grave', mas medidas contra pandemia não podem 'prejudicar economia'

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Por Mateus Vargas e
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro desafiou neste domingo, 15, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), a irem "às ruas" para ver como eles serão recebidos.

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A declaração de Bolsonaro, feita à CNN Brasil, foi uma resposta a críticas sobre a participação do presidente em protesto pró-governo, anti-Congresso e anti-STF. "Gostaria que Maia e Alcolumbre saíssem às ruas como eu.Saiam às ruas e vejam como vocês são recebidos. O acordo não tem q ser entre nós no ar refrigerado. Tem que ser entre nós e o povo"", disse.

Maia e Alcolumbre divulgaram nota para criticar a presença de Bolsonaro na manifestação. O presidente da Câmara considerou um “atentado à saúde pública” a atitude Bolsonaro de ter participado da manifestação pró-governo da área externa do Palácio do Planalto, interagindo com manifestantes. Já o presidente do Senado classificou o comportamento como "inconsequente" e um "confronto" à democracia.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, em frente ao Palácio do Planalto neste domingo, 15, para cumprimentar manifestantes Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

"Estão fazendo críticas. Estou tranquilo. Espero que não queriam fazer algo belicoso", disse Bolsonaro. O presidente afirmou que está disposto a receber Maia e Alcolumbre ou visitá-los para alinhar uma "pauta de interesse da população". 

Segundo o presidente, se houver "aproximação" com o povo, todos no meio político serão "muito bem tratados, reconhecidos e até idolatrados". "Não quero eu aparecer e eles não. Estou disposto a recebê-los. Vamos conversar", disse.  O presidente disse que "irresponsavelmente" quiseram atribuir a ele a convocação dos atos. "Querem lançar cortina de fumaça sobre seu trabalho que não está sendo reconhecido por parte da população."

Bolsonaro disse que políticos têm de ser "quase escravos da vontade popular". Ele criticou acordos políticos, como para divisão de recursos do Orçamento impositivo. "O acordo não tem de ser entre nós. Tem de ser entre nós e o povo", disse. 

"Histeria"

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Bolsonaro também chamou de "extremismo" e "histeria" medidas adotadas diante da pandemia do coronavírus, que no Brasil já havia infectado 200 pessoas até o início da noite.

Para enfrentar a pandemia, governadores têm decretado o fechamento provisório de lugares com alta aglomeração de pessoas, como salas de cinema e teatro e a suspensão de atividades escolares. Para o presidente, a proibição de jogos de futebol é partir para o extremismo. Ele sugeriu permitir que ao menos uma parte dos ingresses seja vendida, liberando parcialmente, assim, o acesso aos jogos.

“Porque não vai, no meu entender, conter a expansão desta forma muito rígida. Devemos tomar providências porque pode, sim, transformar em uma questão bastante grave a questão do vírus no Brasil, mas sem histeria”, opinou o presidente.

Para ele, medidas como o fechamento de estádios vão aumentar o desemprego. Bolsonaro disse que o governo irá instalar um gabinete de crise para "tomar providências", especialmente na área econômica. 

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"O desemprego leva pessoas que já não se alimentam muito bem a se alimentar pior ainda, aí vão ficar mais sensíveis, uma vez sendo infectadas, você levar até a óbito", afirmou. “A questão do vírus é grave, mas economia tem de funcionar e não podemos prejudicar economia”. 

O presidente disse que houve uma pandemia na década passada, mas que a "reação não foi essa". "No Brasil era o PT que estava (no governo), nos EUA, eram os democratas. A reação não foi essa. Nem sequer perto do que está acontecendo", especulou. Ele se referiu à gripe H1N1.

Onze pessoas que estiveram com Bolsonaro nos Estados Unidos estão com coronavírus, entre eles o secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten. O prefeito de Miami, Francis Suarez, que recepcionou a equipe brasileira também está infectado. 

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Evitar aglomerações

Após o presidente Jair Bolsonaro atropelar recomendações sanitárias e participar de ato pró-governo, o Ministério da Saúde voltou a orientar que sejam evitadas aglomerações e contatos próximos. “A recomendação vale para manifestações, shows, cultos e encontros, entre outras atividades”, disse a pasta em nota enviada no fim da tarde deste domingo, 15.

O Ministério da Saúde fez recomendações na semana passada para que eventos com aglomerações fossem cancelados, adiados ou feitos sem público. Ontem, após pressão do setor de Turismo, a pasta recuou e orientou a medida apenas para locais com transmissão comunitária do vírus, quando não é possível identificar quem pegou de quem. São os casos de São Paulo e do Rio de Janeiro.

O recuo do ministério por pressão do setor do turismo e a ida de Bolsonaro ao protesto, atropelando a cartilha sanitária do governo, causaram constrangimento entre autoridades que trabalham para conter o avanço do novo coronavírus. A leitura é de que falta autonomia ao ministério para decidir quais medidas devem ser adotadas pelo País. 

Causou ainda perplexidade no governo a presença do diretor-presidente substituto da Anvisa, Antonio Barra Torres, no ato pró-governo. Ele estava ao lado de Bolsonaro e chegou a fazer fotos com o presidente. 

Barra Torres se tornou um conselheiro de Bolsonaro para assuntos de saúde. Apesar de elogiado por ações para conter uma crise sanitária no Brasil, o ministro Mandetta não cai nas graças de Bolsonaro, dizem fontes do governo.

A Anvisa não se manifestou sobre se Bolsonaro contrariou recomendações do órgão e da Saúde para evitar uma epidemia de novo coronavírus. Disse apenas que Barra Torres aceitou convite para conversa informal no Palácio do Planalto com Bolsonaro.

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