Após acusação, Senado chama envolvidos na venda da Varig

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Por Redação
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Os envolvidos no caso da venda da Varig, realizada em 2006, foram chamados pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado nesta quinta-feira para prestar esclarecimentos. Na véspera, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, acusou, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, de pressionar o órgão regulador do setor aéreo para favorecer os compradores da VarigLog e da Varig. Dilma negou influência no caso. "As acusações feitas pela doutora Denise Abreu são falsas, são informações falsas. Até estranho as declarações por conta da relação qualificada, de consideração, que havia entre a doutora Denise e a Casa Civil", disse Dilma na quarta-feira, quando admitiu que o governo teve grande preocupação com a falência da Varig e com a descontinuidade do serviço. A VarigLog, empresa de cargas, foi vendida pela Varig em janeiro de 2006 a uma sociedade entre o chinês Lap Chan (dono do fundo norte-americano Matlin Petterson) e os brasileiros Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Luiz Eduardo Gallo. Estrangeiros não podem ter participação superior a 20 por cento em empresas aéreas. Seis meses depois, a VarigLog comprou a própria Varig por 24 milhões de dólares e em março de 2007, a Gol adquiriu a empresa por 320 milhões de dólares. Denise disse ao jornal que foi pressionada pela Casa Civil a tomar decisões favoráveis à venda da Varig ao fundo e seus sócios brasileiros. "A ministra não queria que eu exigisse os documentos (para verificar a origem do capital e a declaração de renda dos brasileiros). Dizia que era da alçada do Banco Central e da Receita e que era muito difícil fazer qualquer tipo de análise tentando estudar o Imposto de Renda porque era muito comum as pessoas sonegarem no Brasil", disse Denise ao jornal. O advogado Roberto Teixeira representava os compradores. Teixeira, por sua amizade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já levantou suspeitas em outras ocasiões de efetuar tráfico de influência junto ao Planalto. Marco Antonio Audi declarou que a influência de Teixeira foi decisiva na compra e que teria pagou a ele 5 milhões de dólares pelo serviço. O advogado negou as informações em entrevista coletiva. Denise deixou a Anac em agosto de 2007 em plena crise do setor aéreo, sob críticas de que era responsável pelo caos que se instalou nos aeroportos. Em nota, o fundo Matlin Patterson refutou as acusações. A Gol disse que adquiriu a Varig "em conformidade com as leis vigentes e com a aprovação das autoridades brasileiras". CONVITE E CPI A Comissão de Infra-Estrutura do Senado marcou para dia 11, quarta-feira que vem, a presença de Denise Abreu, do ex-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, do procurador da Anac João Lima Filho, do juiz responsável pelo processo de recuperação judicial da Varig Luiz Roberto Ayoub, do ex-procurador da Anac Manuel Felipe Brandão e de dois ex-diretores da Anac, Leur Lomanto e Jorge Veloso. No dia 18 devem comparecer os três sócios brasileiros que adquiriram a Varig, além do advogado Roberto Teixeira e um representante dos funcionários da Varig. Será feito um convite e não uma convocação porque a maioria dos envolvidos já está afastada de suas funções públicas. "O governo não tem medo de nada e não vai pagar pelo erro dos outros", disse nesta manhã o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR). "É um convite, eles podem não vir, é verdade. Mas eu acredito que o interesse de esclarecer os fatos é deles." Na oposição, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defende a abertura de uma CPI para investigar as denúncias. "Essa história tem todos os ingredientes de uma CPI e se os convidados não aparecerem, ganha força nossa tese de CPI, mas o complicado é que o governo sempre fala que é a favor de investigação e depois blinda todo mundo e ninguém explica" Para Jucá, não é o caso de CPI. "Por enquanto, vamos ouvir o que as pessoas têm a dizer." (Texto de Carmen Munari)

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