Após 19 anos, assassinato de missionário vai a julgamento

Dois acusados já morreram, e outros dois tiveram a acusação prescrita

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Por Agencia Estado
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A sentença de pelo menos um dos acusados da morte do missionário jesuíta e indigenista Vicente Cañas Costa será anunciada na quinta-feira, pelo juiz da 2ª Vara Federal em Mato Grosso, Jéferson Schneider. O crime ocorreu em abril de 1987, em Juína (MT), distante 737 quilômetros de Cuiabá. O Ministério Público Federal pediu a condenação do delegado Ronaldo Antônio Osmar, por homicídio duplamente qualificado, crime cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão, por intermediar, com os pistoleiros José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva, o assassinato do religioso espanhol. No primeiro dia do julgamento, Ronaldo Osmar, delegado à época em Juína, mostrou-se impassível diante da leitura do relatório e laudo periciais que apontaram as circunstâncias como o corpo do missionário fora localizado às margens do rio Juruena. De acordo com o relatório, o jesuíta foi morto a facadas, por fazendeiros da região, quando se preparava para atender a uma aldeia, levando medicamentos. Seu corpo foi encontrado cerca de quarenta dias depois da morte, por dois missionários do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), com o abdômen perfurado. O advogado do delegado acusado, Zoroastro Teixeira, sustenta a tese que o laudo do Instituto Médico Legal (IML) não aponta a causa da morte do missionário. Com base nessa informação, ele pedirá a absolvição de seu cliente. Com o apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o missionário enfrentou fazendeiros do Norte de Mato Grosso para assegurar a demarcação das terras dos índios da etnia Enawenê-Nawê, um grupo quase isolado do contato com não-índios e que ainda não tinha área demarcada ou homologada. A investida de Cañas gerou um conflito que terminou com sua morte e quase 20 anos depois os responsáveis pelo crime estão sendo julgados. O missionário viveu com os Enawenê por 10 anos. Os primeiros contatos com o grupo ocorreram em 1974. À época, os enawenê eram 97 pessoas. Hoje, a população é de 430. Acusações prescreveram A Justiça Federal em Mato Grosso desmembrou o julgamento do outro acusado pelo crime, o pistoleiro José Vicente da Silva, cujo julgamento está previsto para a próxima terça-feira. Já Martinez Abadio da Silva, outro acusado, não responderá ao processo, pois entre o crime e a denúncia, a acusação prescreveu. Martinez está hoje com 73 anos. Mais dois fazendeiros denunciados como mandantes pelo Ministério Público, Pedro Chiquetti e Camilo Carlos Obici, morreram. O quarto mandante acusado, o fazendeiro Antonio Mascarenhas Junqueira, não pode mais ir ao tribunal porque tem mais de 70 anos e a ação contra ele já prescreveu. "Essa é uma oportunidade fundamental para não deixar a impunidade prevalecer no Mato Grosso", disse o advogado do Cimi e assistente da acusação, Paulo Machado Guimarães.

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