Após 17 anos, grupo luta para sobreviver

Assentados em Iperó vivem de ajuda oficial e trabalho na cidade

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Por José Maria Tomazela
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Quando o pequeno Adrian, de 4 meses, adoece, sua mãe, a assentada Jaqueline Donizete da Silva, de 18 anos, corre atrás da ajuda de vizinhos para levar a criança ao posto de saúde mais próximo, na área urbana de Iperó, a cerca de 10 quilômetros. Ela já chegou a fazer o percurso de carroça, porque o assentamento Ipanema, originado de uma invasão do Movimento dos Sem-Terra (MST) em maio de 1992, não tem sequer linha de ônibus. Apenas os alunos que estudam na cidade têm condução garantida. Passados 17 anos, a maioria das 161 famílias ainda depende da ajuda do governo para sobreviver. Mesmo com o aproveitamento da estrutura do antigo Centro Nacional de Engenharia Agrícola (Cenea), extinto no governo do ex-presidente Fernando Collor, a produção é pequena. A maioria trabalha fora para sobreviver, como João Ferreira da Silva, de 41 anos, carpinteiro do vizinho Centro Experimental Aramar, da Marinha, e sua mulher Lucidalva, funcionária pública em Iperó. Os filhos Maria Aparecida, de 23 anos, e João Flávio, de 17, cuidam do lote. O marido de Maria também trabalha na cidade. O Cenea era um centro de pesquisas e ensaios de máquinas do Ministério da Agricultura - todo equipamento passava por testes ali antes de ir para o mercado. Após sua extinção, a Fazenda Ipanema, com mais de 5 mil hectares, foi invadida por 800 militantes do MST. "Foi a maior ocupação que já fizemos", orgulha-se José Nunes da Silva, de 56 anos, um dos pioneiros. Ele deixou o emprego de vigia em Indaiatuba, região de Campinas, para se juntar aos invasores. Até hoje, como dezenas de outros assentados, Silva mora numa das casas de colonos da antiga fazenda. "Não terminei a casa no meu lote porque não veio todo o dinheiro." Os assentados trabalham com financiamentos do governo. Silva plantou 3 mil pés de uvas e 2 mil de abacaxi. Os sem-terra ocupam quase 2 mil hectares. Outros 5 mil integram a Floresta Nacional de Ipanema, unidade de conservação federal. Em 2008, o assentamento foi beneficiado com um curso especial de agronomia do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

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