Apoiado pelo governo, Vilhena se mantém isolado na UFRJ

A última do reitor foi não convocar o Conselho Universitário para discutir investimentos em infra-estrutura. O prazo acaba este mês e somente Vilhena pode convocar o conselho

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Por Agencia Estado
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A maior universidade federal do País, a UFRJ, vive um clima de crescente insatisfação em relação ao reitor José Henrique Vilhena, impopular desde que assumiu o cargo, há três anos. Professores e alunos defendem sua saída e chegaram a procurar o Ministério Público Federal (MPF) para se informar sobre a possibilidade de ele ser retirado por crime de improbidade administrativa - o que já está sendo estudado pelo procurador dos Direitos do Cidadão, Daniel Sarmento. Empossado em julho de 1998, o reitor só conseguiu entrar em seu gabinete duas semanas depois - funcionários e estudantes contrários à sua nomeação pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza, acamparam na reitoria. Ele foi o último colocado na lista tríplice elaborada pelo Conselho Universitário (Consuni) e entregue ao ministro e enfrenta resistências internas desde então. Na época, uma consulta feita na instituição já apontava sua impopularidade: Vilhena recebeu apenas 11% dos votos, contra 42,5% do primeiro colocado, o professor de economia Aloísio Teixeira. "Estou há 23 anos na UFRJ e nunca vi um reitor com um grau de rejeição tão alto, nem na época da ditadura militar. Mas não sou anti-Vilhena, sou pró-universidade", afirma o professor Carlos Lessa, decano do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) e membro mais moderado do Consuni, órgão presidido por Vilhena. No mês passado, o Conselho de Ensino de Graduação (Ceg) enviou carta ao MEC informando sobre os conflitos com a reitoria. Isabel Mansur, coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da universidade, confirma que o movimento anti-Vilhena cresce a cada dia. "Vivemos uma ditadura, não há qualquer espaço para discussão. Ele (Vilhena) sempre foi impopular, mas, atualmente, praticamente 100% da comunidade gostaria que ele saísse da reitoria. Não só ele, mas também seus sub-reitores", diz Isabel. A última briga entre o reitor e os corpos docentes e discentes da pelo vestibular da instituição, que foi realizado no fim de outubro mesmo depois de o Conselho de Ensino de Graduação (Ceg) ter decido por seu adiamento. O resultado foi um confronto com a Polícia Militar - chamada ao campus da Ilha do Fundão pelo próprio Vilhena -, do qual nove pessoas saíram feridas, e a anulação das provas dos 56.037 candidatos. "Ele (Vilhena) se recusa a nos ouvir, não tem a menor idéia do que é o processo democrático", critica José Henrique Sanglard, presidente da Associação de Docentes da UFRJ (Adufrj). "Agora, está completamente isolado. É uma figura inexpressiva dentro da universidade, manipulado pelo ministro." Após o vestibular, os deputados estaduais Chico Alencar e Carlos Minc (PT) pediram abertura de inquérito para apurar os tumultos no dia das provas. Para os parlamentares, os prejuízos ao patrimônio da UFRJ e os gastos com os novos exames devem ficar a cargo do próprio Vilhena. O procurador Daniel Sarmento defende que ele já sabia que haveria confusão e manteve o vestibular "por capricho." Na última quinta-feira, nova rusga entre reitoria e Consuni: o reitor não atendeu a um pedido de reunião - só ele pode convocar o conselho - para discutir a assinatura de um convênio que prevê investimentos em projetos de infra-estrutura para a universidade. A pauta era a contratação de recursos no valor de R$ 12,6 milhões. "O reitor não convoca o Consuni há muito tempo e isso só traz problemas. Ele precisa assinar o convênio, pois o prazo acaba este mês. Podemos perder o dinheiro por sua causa", afirmou o professor Lessa. Segundo fontes da universidade, Vilhena se nega a discutir o caso porque não aceita que a Fundação Universitária José Bonifácio (Fujb), que há anos faz a gerência de recursos destinados à UFRJ, receba o investimento, porque quer que a reitoria gerencie o dinheiro. O reitor teria lançado suspeita sobre a Fujb, mas o Tribunal de Contas do Estado constatou que não há irregularidades no repasse das verbas. Vilhena foi militante estudantil nos anos 60 e ingressou na UFRJ em 1980, como professor de filosofia no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), do qual tornou-se, mais tarde, coordenador de pós-graduação e, em seguida, diretor e decano. Foi então vice-reitor. Procurado pelo Estado, Vilhena não quis dar entrevistas. Assessores informaram apenas que ele não pensa num novo mandato - o atual termina no dia 7 de julho de 2002.

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