Aparecida ‘quebra’ com ausência de peregrinos em meio à pandemia

Desemprego no município, que se sustenta do turismo religioso, atinge 80%; ‘Está socioeconomicamente destruída’, diz prefeito

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Por Vinícius Valfré
2 min de leitura

BRASÍLIA - Sem os turistas católicos, o mercado da fé entrou em ruína e o impacto da pandemia de coronavírus na arrecadação quebrou uma cidade. Aparecida, município de 36 mil habitantes localizado a 170 km de São Paulo, vive da peregrinação de fiéis ao Santuário Nacional. Ali, a receita e os postos de trabalho são atrelados à rotina do templo construído em homenagem à santa surgida no Rio Paraíba do Sul, no século 18. 

Em tempos normais, o Santuário atrai 13 milhões de pessoas por ano. Em 2020, no entanto, permaneceu sete meses fechado. Agora, na fase mais dura da covid-19, uma série de restrições de funcionamento voltou a ser imposta, conforme os critérios do plano emergencial do governo do Estado. A prefeitura foi à Justiça contra o decreto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e ganhou uma liminar, mas perdeu em seguida. 

Antes, eram 2,5 mil comerciantes e outros 600 vendedores ambulantes vivendo da devoção dos peregrinos e pagando licenças de funcionamento à prefeitura. Atualmente, só 5% dos 150 hotéis estão abertos. A maioria fechou e demitiu funcionários. De acordo com a administração municipal, o desemprego em Aparecida alcança a taxa de 80%.

Em tempos normais, o Santuário Nacional atrai 13 milhões de pessoas por ano Foto: Roosevelt Cassio / Reuters

“Com esse fechamento agora, a cidade acabou de quebrar. Está socioeconomicamente destruída”, afirmou o prefeito Luiz Carlos de Siqueira (Podemos), o “Piriquito”.

Siqueira estima que, com a paralisação das atividades do Santuário, entre R$ 60 milhões e R$ 70 milhões deixaram de entrar nos cofres da prefeitura, que tem orçamento anual de aproximadamente R$ 140 milhões. No dia 29 de março, por exemplo, só 10% da cidade pagou o IPTU. A adimplência das taxas de alvarás de funcionamento, fonte de receita importante do município, nem sequer alcançou esse patamar.

“O pessoal fica falando que o Santuário tinha que ajudar. O povo sabe da minha ligação com o Santuário”, afirmou o prefeito de Aparecida. “Eu estive outro dia com o reitor. E ele me disse: ‘Também estamos sofrendo, não estamos tendo receita’.” 

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Cestas básicas

No “desespero” e sem agenda marcada, Siqueira foi até Brasília apelar para o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos). Conseguiu 7 mil cestas básicas. Ligado ao presidente do DEM, ACM Neto, Roma foi pessoalmente a Aparecida fazer a entrega, levando a tiracolo deputados e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Em busca de imprimir uma marca à frente da pasta, o ministro Roma aproveitou para usar a cidade como palco para o lançamento do programa Brasil Fraterno. Trata-se de uma parceria entre o governo federal e o Sistema S que prevê a distribuição de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social.

Assim como fez em São Paulo o pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, o arcebispo de Aparecida, d. Orlando Brandes, abriu o Santuário na Páscoa com o respaldo da decisão liminar do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal. No templo, que acomoda mais de 30 mil pessoas e tem área externa para outras 300 mil, 154 ocuparam seus lugares.

Com a decisão do plenário do STF que derrubou a liminar de Nunes Marques, porém, o Santuário voltou a suspender as missas presenciais. E o reflexo foi a queda na arrecadação. 

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Igreja Mundial do Poder de Deus não se manifestaram até a conclusão desta edição. 

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