Aos 72, morre Márcio Moreira Alves

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Por Wilson Tosta e Pedro Dantas
Atualização:

O ex-deputado federal Márcio Moreira Alves, pivô da decretação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) em 13 de dezembro de 1968, morreu às 18h25 de ontem, aos 72 anos. Ele estava internado havia cinco meses no Hospital Samaritano, no Rio, devido a um acidente vascular cerebral sofrido em outubro de 2008. Segundo os médicos que acompanhavam seu estado de saúde, o ex-parlamentar teve falência múltipla de órgãos e insuficiência renal e respiratória. O corpo será velado na Assembleia Legislativa do Rio e cremado hoje, às 15h, no Cemitério do Caju. "Muitos se lembram do AI-5 e do grande jornalista que ele foi. No entanto, poucos sabem do importante papel que Márcio teve na articulação, em Lisboa, do grupo de políticos que voltaria ao Brasil para lutar pela abertura política", disse a pesquisadora Alzira Alves de Abreu, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que há alguns anos colheu depoimento do ex-deputado sobre sua trajetória política. DISCURSO O jornalista foi um dos primeiros cassados em 68 pela nova medida de força dos militares. Eles o acusavam de ofender as Forças Armadas, mas tiveram negado pedido de autorização para processá-lo - o Congresso Nacional ainda tinha essa prerrogativa, apesar do regime de exceção. A recusa do Congresso acabou usada como pretexto para a decretação do AI-5, o chamado "golpe dentro do golpe", que cassou mandatos e direitos políticos. Marcito, como era conhecido pelos amigos, deixou o País clandestinamente e só voltou após a anistia de 1979. Afastou-se da política ao não conseguir voltar à Câmara, em 1982. Há alguns anos, com problemas de saúde, deixou a atividade jornalística. Márcio foi uma das estrelas da oposição na etapa inicial do regime militar. Eleito deputado federal em 1966 pelo MDB, depois de, como jornalista do Correio da Manhã, denunciar a ocorrência de tortura em quartéis e órgãos de repressão política, destacou-se pela eloquência e combatividade na Câmara. Acabou entrando em confronto com a ala mais dura do regime militar, que, para incitar o fechamento institucional, usou um discurso do então deputado no qual exortava as moças a não namorar cadetes como protesto contra a repressão a manifestações de estudantes. O próprio partido governista, a Arena, não tinha unidade para aprovar na Câmara o pedido de autorização de abertura de processo. A rejeição desencadeou o novo fechamento do regime e encerrou a carreira parlamentar de Marcito.

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