Está difícil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixar a "favela" do Palácio do Planalto. A comissão de licitação do Palácio anulou o processo para contratar a empresa que fará a obra de reforma do prédio, como informou nesta terça-feira, 3, o Diário Oficial da União. Assessores do governo, ansiosos em deixar o Palácio, disseram à Agência Estado que o cancelamento não altera o cronograma das obras e a mudança temporária dos funcionários para outros endereços da capital ocorre ainda neste mês. Eles, no entanto, ainda não esclareceram o motivo do cancelamento. Veja também: Lula fala com Niemeyer sobre reformas no Planalto A anulação do processo de escolha da empresa que fará a obra pegou de surpresa os auxiliares do presidente, que aguardam a mudança provisória para outros prédios de Brasília, como o Centro Cultural Banco do Brasil - que deve abrigar o gabinete presidencial -, o Véu da Noiva (anexo do Itamaraty) e o Palácio do Buriti. Agora, os técnicos do governo correm para elaborar uma nova licitação. A reforma do Planalto é uma questão de honra para Lula e sua equipe. Eles estão preocupados, segundo assessores, pois a obra pode ser vista como um termômetro da situação dos canteiros do governo. É uma espécie de "PAC privado" do presidente, dizem. Em dezembro, numa conversa no Planalto com o arquiteto Oscar Niemeyer, Lula reclamou que o Palácio parecia uma "favela", com infiltrações, rachaduras, puxadinhos e fios soltos. O presidente, em junho, orientou os assessores a limparem as gavetas e deixarem o prédio até setembro. Dias depois, o governo adiou o início das obras do Palácio para dezembro. No começo deste ano, os auxiliares do presidente avaliaram que a mudança poderia ser feita logo após o Carnaval. Mesmo que a reforma comece nas duas próximas semanas, como dizem os assessores, dificilmente Lula reabrirá o Palácio, como pretendia, em abril de 2010, na festa de 50 anos de fundação do Planalto e de Brasília. A estimativa inicial do governo é que a reforma dure 14 meses. A previsão mais otimista, agora, é que a reabertura do prédio ocorra ainda em 2010. A reforma do Planalto deu início a uma guerra entre ministros, assessores influentes e apadrinhados sem expressão política. Estima-se que mais de 600 pessoas trabalham nos quatro andares e no subterrâneo do prédio principal, o que inclui funcionários concursados. Deste total, a maioria irá trabalhar, durante a reforma, longe do presidente. Para o Centro Cultural Banco do Brasil irão poucos assessores. Até o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), que nos seis anos de governo trabalhou no quarto andar do Planalto, um piso acima do gabinete presidencial, deve ficar longe do chefe.