Antropólogo assume Funai com orçamento ?zerado?

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Por Agencia Estado
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O antropólogo Mércio Pereira Gomes assumiu hoje um dos mais complicados cargos do governo federal: a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Logo no primeiro dia de trabalho, Gomes tomou conhecimento do que alguns ex-dirigentes da instituição já classificaram de pesadelo. "O orçamento aqui está zerado", disse ele, depois de se reunir com o pessoal da área administrativa. "Não temos recursos para assistência indígena nem para demarcação." Além da falta de dinheiro, Gomes também terá de enfrentar forte oposição dentro da própria fundação, principalmente dos índios que trabalham no organismo. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab) chegou a anunciar que faria hoje uma manifestação na porta do Ministério da Justiça contra a nomeação de Gomes, mas acabou desistindo do protesto, optando por divulgar apenas uma nota de repúdio. A coordenação defendia a nomeação do índio Antônio Apurinã, atual diretor de Assistência da Funai e suplente da senadora Marina Silva (PT-AC), ministra do Meio Ambiente. "Os líderes indígenas não aceitam a indicação de Mércio Pereira Gomes para a presidência da Funai porque ele não tem a vivência com o movimento e não está comprometido com a causa", diz a nota da Coiab. Durante a posse do presidente da Funai, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, declarou que Gomes conta com todo seu apoio. "Ele tem carta branca do Ministério da Justiça." O escolhido, por sua vez, não quis entrar em conflito com seus críticos e disse que vai trabalhar em conjunto com os líderes indígenas. Professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e com um currículo que inclui trabalhos ao lado do célebre antropólogo Darcy Ribeiro, Gomes precisou de apenas meia hora de conversa com Thomaz Bastos para aceitar o cargo. Na semana passada, quando soube que os índios ameaçavam atrapalhar sua posse com uma manifestação, decidiu não se intimidar. "Vou entrar pela porta da frente", reagiu. "Ninguém vai pisar nos meus calos." Ao discursar, Gomes também mandou seu recado: "Não faço farofa, não fujo da raia."

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