Antonio Palocci será indiciado na quarta-feira

Situação do ex-ministro da Fazenda se complica após assessores confirmarem ter sido dele a ordem para a quebra do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa

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Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci será indiciado nesta quarta-feira pela Polícia Federal por pelo menos três crimes: quebra do sigilo funcional, abuso de poder e advocacia administrativa (para se auto-beneficiar). Palocci será ouvido pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes no inquérito aberto para apurar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa que, em entrevista ao Estado no dia 14 de março, contou que o ex-ministro freqüentava uma mansão no Lago Sul, alugada por seus ex-colaboradores de Ribeirão Preto, onde era feita distribuição de dinheiro e festinhas com garotas de programa. A situação de Palocci, que já era ruim, piorou muito neste domingo. Pela manhã, depuseram em sigilo, na Polícia Federal, duas das mais importantes testemunhas da ordem dada por Palocci para que fosse violado o sigilo do caseiro: Cláudio Alencar, chefe de gabinete do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg. Os dois confirmaram o que a PF já sabe: foi Palocci quem deu a ordem para a quebra do sigilo. Eles disseram ao delegado Rodrigo Carneiro Gomes que na quinta-feira, dia 16 (dois dias depois da entrevista do caseiro ao Estado), foram chamados por Palocci por volta das 23 horas. Deveriam ir a casa do ex-ministro, também localizada no Lago Sul, a uns quatro quilômetros da mansão onde atuara a chamada "República de Ribeirão Preto". Ao chegar li, encontraram o ex-ministro e Jorge Matoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal. Goldberg disse que não conhecia Matoso pessoalmente. Ele acrescentou que, depois de conversarem, Matoso e Palocci dirigiram-se ao escritório da casa. Palocci perguntou a Goldberg se, pela área econômica, havia como investigar depósitos feitos para Francenildo. A Cláudio Alencar, indagou se não daria para por a Polícia Federal no encalço do caseiro. Os dois teriam respondido a Palocci que fariam as consultas. Naquele dia 16 o ministro da Justiça estava em Rondônia. No dia seguinte, 17, Alencar quis saber da Polícia Federal se haveria como investigar Francenildo. Em resposta, segundo contou ao delegado, ouviu a informação de que não haveria como, porque nada justificava a abertura de um inquérito para apurar alguma coisa a respeito de Francenildo. Investigação no Coaf A Polícia Federal já tem a informação de que foi aí que tomou corpo em Palocci e no seu então assessor de Comunicação, Marcelo Netto, a idéia de, com o sigilo do caseiro em mãos, ordenar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, que investigasse Francenildo. Ou de encaminhar à PF o pedido de abertura de inquérito por movimentação bancária suspeita. Antes de vazar os extratos bancários a revista Época, a assessoria de Palocci avisou ao senador Tião Viana (PT-AC) que "coisas estranhas" a respeito do caseiro tinham sido descobertas. Tanto é que a informação sobre "revelações surpreendentes" circularam pelo Congresso antes mesmo de que a Época desse a informação em seu site. Ouvido pela Polícia Federal na segunda-feira, Jorge Matoso contou que havia entregue os extratos de Francenildo ao próprio Antonio Palocci. No mesmo dia ambos foram demitidos. Ao notarem a repercussão que a atitude criminosa tinha tomado, e ao perceberem que não teriam como evitar que seus nomes aparecessem, Daniel Goldberg e Cláudio Alencar procuraram a Polícia Federal e se puseram a disposição para depor. Foram chamados ontem.

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