PUBLICIDADE

Antecipar eleições é golpe, diz Temer a sindicalistas

Declaração do vice foi dada durante reunião com representantes de quatro centrais sindicais; segundo participantes, peemedebista também disse que chamará todos os partidos para diálogo caso seja presidente

Por Lu Aiko Otta e Ricardo Galhardo
Atualização:

Brasília - O vice-presidente Michel Temer disse nesta terça-feira, 26, que a proposta de antecipar as eleições para presidente da República, considerada por alguns setores da classe política, inclusive pela presidente Dilma Rousseff, seria um golpe. Temer fez a afirmação durante encontro com grupo de sindicalistas pela manhã. “Ele fez uma comparação”, afirmou o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Fernandes dos Santos Neto.

“Ele disse que o impeachment está previsto na Constituição Federal. Então, qualquer solução diferente seria um golpe, porque aí seria necessário alterar a Constituição. Nos momentos mais difíceis do Brasil, quando se passaram problemas com o Getúlio, ou com o Jango, sempre deram o golpe tentando modificar a Constituição, saindo daquele roteiro que deveria ser cumprido.” Pelo raciocínio do vice-presidente, conforme relatado pelo sindicalista, isso estaria acontecendo também agora, com a tentativa de impedir o que está previsto na Carta, que é a posse do vice. “Se fosse nos EUA as pessoas ficariam coradas mas no Brasil...”, comparou Temer.

Vice-presidente Michel Temer Foto: Andre Dusek|Estadão

PUBLICIDADE

Está em tramitação no Senado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de um grupo de senadores, entre eles Walter Pinheiro (sem partido-BA) e e João Capiberibe (PSB-AP) que prevê eleições presidenciais em outubro de 2016, junto com os pleitos municipais. Pela proposta, o eleito exerceria um mandato de dois anos, até 1º de janeiro de 2019. O senador justifica sua proposta dizendo que tanto Dilma quanto Temer “representam um projeto de poder que conta hoje com a desaprovação da maioria da população.”

Reunião. Temer se reuniu com representantes de quatro centrais sindicais (Força Sindical, Nova Central, UGT e CSB) na manhã desta terça. Conforme sindicalistas, os temas principais da reunião foram a pauta econômica e a possibilidade de cortes em programas sociais e direitos trabalhistas (negada pelo vice-presidente) mas também se falou de política, principalmente sobre a possibilidade de protestos e tentativas de desestabilizar seu eventual governo por parte do PT e movimentos sociais ligados ao partido de Dilma.

“Infernizarem a minha vida não tem problema nenhum. Não pode é infernizar o Brasil. Assim que o Senado homologar (o impeachment) vou chamar todos partidos, inclusive o PT”, teria dito Temer, segundo anotações de um participante do encontro.

Durante a reunião, o vice-presidente disse que pretende chamar todos os partidos para conversar, inclusive o PT, assim que o Senado decidir sobre o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo relatos de participantes do encontro, Temer teria dito ser uma pessoa religiosa e que “por razões do destino” é o responsável por “fazer a moderação” entre as diferentes forças políticas.

“Talvez seja este o papel que a vida me reservou”, disse o vice-presidente, de acordo com participantes do encontro.

Publicidade

Benefícios. Segundo os sindicalistas, Temer se mostrou descontente com as acusações do PT e de Dilma de que, se ocupar a presidência, vai cortar programas sociais como o Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida. O vice-presidente lembrou aos participantes do encontro que é um constitucionalista e que a Constituição prevê direitos contemplados por estes programas como o direito à alimentação e à moradia.

Ele repetiu o argumento de ser um constitucionalista ao garantir que não vai mexer em direitos adquiridos no âmbito de uma possível reforma da previdência mas indicou que as pessoas que vão entrar no mercado de trabalho poderão ter regimes diferentes. As discussões sobre a reforma se darão na Câmara Federal.

Os sindicalistas, por sua vez, pediram para Temer não mexer, ao menos por enquanto, na política de aumento real do salário mínimo instituída no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles argumentaram que o aumento é calculado com base no crescimento do Produto Interno Bruto e como o PIB não deve crescer nos próximos dois anos, período de seu eventual governo, não há razão prática para uma alteração.

“Ele se mostrou aberto ao diálogo. É um político, um homem que se precisar vai dizer não numa boa, mas tem habilidade para escutar”, disse o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna.

Ao final da reunião, os representantes das centrais entregaram a Temer um texto com 20 propostas para enfrentar a crise econômica, entre elas a correção da tabela do Imposto de Renda e redução da taxa básica de juros.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.