ANJ premia jornalistas do Paraná por série sobre altos salários de juízes e promotores

Reportagens motivaram 48 ações judiciais de magistrados contra profissionais da 'Gazeta do Povo', causando repúdio na opinião pública e na imprensa

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Por Leonencio Nossa
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Redação da 'Gazeta do Povo', no centro de Curitiba Foto: Reprodução|Gazeta do Povo

BRASÍLIA - A Associação Nacional de Jornais entregou nesta quarta-feira, 28, a uma equipe da "Gazeta do Povo", de Curitiba, o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa de 2016. Em solenidade em um hotel de Brasília, os jornalistas paranaenses foram distinguidos por uma série de reportagens sobre salários acima do teto no Judiciário e Ministério Público. A série de notícias motivou 48 ações judiciais de juízes e promotores contra os profissionais, causando repúdio na opinião pública e na imprensa.

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Ao entregar o prêmio, o diretor do Grupo Estado e da ANJ, Francisco Mesquita Neto, lembrou que, nos anos anteriores, a entidade reconheceu a importância do Poder Judiciário na garantia das liberdades individuais e coletivas, e em particular da liberdade de imprensa. "Se em outros anos, a entrega do Prêmio ANJ teve uma dimensão efusiva e congratulatória, neste ano a honraria representa um justo reconhecimento às melhores práticas jornalísticas e à determinação de um jornal de cumprir com a missão de serviço público", afirmou Mesquita Neto. "Ninguém, nenhuma instituição, contudo, pode se pretender acima da lei", destacou.

O repórter Euclides Garcia, um dos premiados, relatou que a equipe chegou a andar 10 mil quilômetros, às vezes percorrendo trechos diários de 800 quilômetros, para comparecer às audiências marcadas em diversas localidades do interior paranaense, decorrentes das ações abertas pelos juízes e promotores.

Numa primeira análise do caso, a ministra Rosa Weber do Supremo Tribunal Federal (STF) negou pedido para suspender o conjunto de ações. Depois, ao avaliar recurso apresentado pela "Gazeta do Povo", a ministra mudou de posição. No recurso, o jornal apresentou um áudio em que o juiz Walter Ligeiri Junior, de Paranaguá, afirmou que os jornalistas teriam que viajar muito para responder processos, e 700 magistrados preparavam ações contra o jornal e seus profissionais.

Euclides disse que a expectativa agora é que o Supremo suspenda definitivamente as ações. "A Gazeta (do Povo) deu todo o suporte para a gente", afirmou o repórter. "Se o problema tivesse ocorrido com um pequeno blog, um blog ou um pequeno veículo que faz jornalismo, dificilmente os profissionais teriam condições de fazer essas viagens".