Anel comprado por Cavendish foi 'presente de puxa-saco', diz Cabral

Ex-governador do Rio nega que tenha recebido anel como moeda de troca por participação da Delta nas obras do Maracanã

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Por Constança Rezende
Atualização:

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) disse que o anel de cerca de R$ 800 mil comprado pelo empresário da Delta, Fernando Cavendish, para a primeira-dama Adriana Ancelmo “foi um presente de puxa-saco” para lhe agradar. Cabral também declarou que o empresário mentiu no depoimento dessa segunda-feira, 4, ao dizer que o objeto foi um “anel de compromisso” com o ex-governador, que teve como contrapartida a participação da Delta nas obras do Maracanã.

Adriana Ancelmo e Sérgio Cabral são alvos de operações da Polícia Federal em esquema de corrupção de lavagem de dinheiro Foto: Vera Donato|Estadão

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“Esse pobre sujeito está desesperado por esta acusação de ter lavado mais de R$ 300 milhões. Ele vai mudando a versão dele de acordo com os interesses da acusação. Ele me deu a oportunidade de dizer ao senhor (juiz Marcelo Bretas) que ele é um mentiroso. Ele me entregou anel de presente, um presente de puxa-saco, querendo me agradar e que foi devolvido”, disse Cabral,em interrogatório na tarde desta terça-feira, 5, para a 7ª Vara Federal Criminal.

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Questionado por Bretas se seria estranho um presente de tão alto valor, Cabral respondeu que não sabia o seu preço. “Não perguntei o valor do presente, seria uma indelicadeza”, disse. O ex-governador também negou que o anel tenha sido usado como moeda de troca para a obra. “Ele (Cavendish) está desesperado com medo de ir para a cadeia de novo. Tenta converter um presente dado um ano antes da licitação como negociata. Eu devolvi o anel em 2012 e não quis mais conversa com ele, rompemos relações”, disse Cabral, que afirmou ser “risível” a acusação de Cavendish.

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O acusado também disse que os empresários que contaram ter repassado propinas para ele “são dignos de pena”. Também negou favorecimento em licitações e voltou a admitir o uso pessoal de caixa dois. “Nunca recebi propina, nem no Maracanã, nem em nenhuma obra. O que recebi dessas empresas foi colaboração de campanha e eles misturam colaboração de campanha com propina”, disse.

Cabral está sendo interrogado no processo que tem como tema supostas fraudes em licitações em obras do estado, como na reforma do Maracanã e no PAC das Favelas. Também serão interrogado o secretário de obras da gestão de Cabral, Hudson Braga e empresários que fecharam contrato com o estado.

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De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a denúncia se refere aos pontos de interseção entre os esquemas criminosos que são objetos das chamadas Operações Calicute e Saqueador, “referindo-se especificamente às tratativas levadas a efeito pelos executivos das empreiteiras Delta, Andrade Gutierrez, Carioca Engenharia, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Camter e EIT”.

As investigações são a respeito de suposta fraude na licitação de dois conjuntos de obras executadas pelo governo do Rio com recursos federais, como a reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014 e as obras do programa de urbanização e regularização fundiária, o PAC-Favelas, “além da formação de grupo cartelizado que atuava para eliminar a concorrência nas grandes obras públicas executadas por aquele Governo estadual”, segundo o MPF.

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