André Moura afirma que Cunha não vai ter 'influência nenhuma' em sua liderança na Câmara

Aliado do presidente afastado da Câmara, novo líder do governo destacou que Cunha foi 'importante' no impeachment; Moura também disse que não teme investigação da Lava Jato

PUBLICIDADE

Foto do author Julia Lindner
Por Julia Lindner e Igor Gadelha
Atualização:

BRASÍLIA - O novo líder do governo na Câmara dos Deputados, André Moura (PSC-SE), afirmou que o presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não terá "influência nenhuma" em sua atuação no comando da Câmara. Um dos principais aliados do peemedebista, Moura destacou, contudo, que Cunha teve um papel "importante" na condução do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e que ele foi "corajoso" por ter deflagrado o processo de impedimento. O deputado contou que esteve com Cunha na última semana, mas voltou a dizer que o presidente afastado não articulou pela sua indicação e que ele é apenas "líder do governo Michel Temer".

PUBLICIDADE

Apesar de interlocutores de Cunha afirmarem que ele atuou diretamente pela nomeação, Moura considerou que a decisão de Temer se baseou no apoio que possui de outros parlamentares. Nesta quarta, 18, diversos parlamentares do chamado "Centrão" (PMDB, PR, PHS, PSL, PP, SD, PSD, PTB, PTN, PEN, PRB, PSC e Pros) levaram o nome de Moura ao presidente em exercício.

"Quanto à influência de Cunha na minha liderança, quero dizer que estou aqui nessa Casa há seis anos e durante esse período construí um bom relacionamento com várias pessoas. O trabalho que fizemos durante o impeachment foi fundamental para obter os votos necessários para a aprovação do processo na Câmara, isso permitiu que eu tivesse o apoio de 13 partidos", defendeu.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e André Moura (PSC-SE) são aliados Foto: Andre Dusek/Estadão

Sobre possuir resistência de alguns membros da base aliada, como DEM e PPS, devido à sua proximidade com Cunha, ele disse desconhecer os comentários. "Não tenho conhecimento disso, conversei hoje com líderes do PSDB, PP, PSD e PP, mas ainda farei uma visita a todas as lideranças que compõem a base do governo. Não vi retaliação, mas é natural que isso aconteça com tantas legendas, pois algumas defendiam outros nomes, mas o importante é que somos uma só base."

Moura disse que recebeu o convite de Michel Temer para assumir o cargo na noite de terça, 17, no Palácio do Planalto. Também estavam presentes o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB), e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Desde cedo, Moura já está atuando na Casa para auxiliar a gestão provisória a destravar a pauta. Segundo o parlamentar, há um acordo para votar nesta quarta duas das quatro medidas provisórias pendentes: a MP 706/15, que define ações de combate ao mosquito transmissor do zika vírus e da dengue; e a MP 712/15, que aumenta o prazo para distribuidoras de energia assinarem aditivo de contrato com o Ministério de Minas e Energia para prorrogar a concessão do serviço.

O objetivo do governo agora é ter a pauta "livre" para novas propostas a partir da próxima segunda, 23. "Minha missão aqui é trazer matérias que possam permitir que o País volte a encontrar o caminho do crescimento", afirmou. Para ele, independente da posição dos partidos, é preciso apreciar os projetos logo.

Publicidade

Maranhão. Moura também comentou o impasse da permanência de Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência da Câmara, que tem sido motivo de instabilidade na base aliada e pode dificultar as votações. "Houve uma tentativa de solucionar, de buscar uma solução na semana passada, não do governo, mas de vários partidos, e não foi possível", afirmou. "Maranhão não deixou dúvidas de que não aceita renunciar ou se afastar, então temos que trabalhar com o que é possível, e isso é ajudá-lo a conduzir o plenário, assim como o ajudamos hoje a conduzir a reunião do colégio de líderes. O parlamento precisa dar uma resposta positiva à sociedade", complementou.

Questionado sobre a votação da CPMF, que gerou mal-estar entre aliados, Moura respondeu apenas que ainda não discutiu o assunto com Temer. 

Lava Jato. Moura afirmou que não tem o que temer pelo fato de ser formalmente investigado pela Operação Lava Jato. A Procuradoria-Geral da República (PGR) suspeita que Moura e outros aliados de Cunha apresentaram requerimentos e atuaram na Casa para chantagear empresas, entre elas, as do grupo Schahin.

Moura disse que só teve o nome incluído no inquérito por ter sido "agressivo" e "carrasco" durante a oitiva de executivos do grupo Schahin na CPI da Petrobrás, no ano passado. "Eu não poderia tratar réus confessos chamando de anjo ou santo ou recebendo flores", afirmou o deputado em sua primeira entrevista como líder do governo. Ele declarou que não recebeu doação de empresa investigada pela Lava Jato, nem teve o nome citado em qualquer delação premiada ou gravação.