PUBLICIDADE

André Mendonça, um ministro 'terrivelmente' bolsonarista?; leia análise

Ainda que pesem suas habilidades jurídicas, o que atrai o presidente é sua interlocução junto aos setores evangélicos do País, que representam cerca de 30% dos brasileiros

PUBLICIDADE

Por Vinicius do Valle
Atualização:

Indicado por Jair Bolsonaro para uma vaga no STF, o advogado-geral da União, André Mendonça, é doutor pela Universidade Salamanca. Ainda que pesem suas habilidades jurídicas, o que atrai o presidente é sua interlocução junto aos setores evangélicos do País, que representam cerca de 30% dos brasileiros. Em 2018, estima-se que Bolsonaro contou com o apoio de 70% dos evangélicos. Hoje, com a popularidade em queda, há pesquisas que já mostram uma maioria desse eleitorado inclinada a votar em candidatos da oposição. Se o eleitorado evangélico ameaça abandonar o barco do bolsonarismo, o mesmo não foi constatado entre os principais líderes religiosos, que permanecem ao lado do presidente – e têm excelente interlocução com Mendonça.

André Mendonça é teólogo e pastor. Suas pregações acontecem principalmente na Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, mas ele é também convidado a pregar em cultos de diferentes denominações pelo País. Trata-se, portanto, não de um representante de uma denominação ou vertente específica, mas, sim, de uma figura com importante trânsito dentro de todo o universo evangélico, dos históricos aos neopentecostais – característica nada simples de se encontrar. 

O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça Foto: Gabriela Biló / Estadão

PUBLICIDADE

Em um mundo ideal, a proximidade com setores religiosos não deveria apresentar problemas para o postulante a ministro, visto que, em um Estado laico, a filiação e o exercício religioso comporiam questões privadas, e não romperiam a neutralidade do Estado frente às distintas religiões. No entanto, a confusão entre profissão de fé e exercício de poder público vem sendo a marca da “bancada da Bíblia”, e uma das características centrais da atuação de Bolsonaro. Nesse quesito, o histórico de Mendonça traz preocupações: em abril, em sustentação oral no STF, Mendonça se utilizou da Bíblia para defender a manutenção de templos religiosos abertos durante a pandemia de covid-19. Nas suas pregações, Mendonça chegou a dizer que “Não podemos nos curvar a qualquer poder que não seja o poder de Deus”. Para além da questão religiosa, assusta o fato de Mendonça ter usado, enquanto ministro da Justiça, a Lei de Segurança Nacional para inquéritos contra opositores do governo

Não preocupa, portanto, a filiação religiosa do indicado ao STF, mas, sim, sua atuação, religiosa e política, “terrivelmente bolsonarista”.

DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA USP E AUTOR DE ‘ENTRE A RELIGIÃO E O LULISMO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.