O ministro Sérgio Moro teve, no domingo, novamente, grande apoio popular. Continua sendo, mesmo após as divulgações do Intercept Brasil, um lastro simbólico do governo de Jair Bolsonaro: simboliza o combate à corrupção e, ainda, a aprovação da Operação Lava Jato.
Contudo, sua situação é delicada. Equilibra-se tendo, de um lado, apoio popular e do presidente; mas, de outro, o fato de, ao que parece, ter exorbitado suas funções como juiz, tendo, no mínimo, agido em desconformidade com os padrões do Direito e, talvez, até, cometido ilegalidades que podem ter profundas consequências jurídicas e políticas.
Na Câmara, deputados do PT e outros partidos de esquerda foram duros, incisivos, contra Moro. O contraponto foi o PSL, defendendo o ministro. Nas críticas, podemos encontrar a síntese de quase todos os argumentos nas falas de Alessandro Molon (PSB-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Maria do Rosário (PT-RS).
E na defesa/elogio de Moro e da Lava Jato, nas falas de Marcel van Hatten (Novo-RS), Renata Abreu (Podemos-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP). Não faltou tensão, bate boca, ironias e até momentos de humor. No limite, para além de apoio ou crítica de indivíduos e grupos em relação a Moro, o que se releva, mais profundamente, são traços de nossa cultura política que transmutou um juiz, funcionário público, em herói.
Temos arraigadas as dimensões messiânica, salvacionista, personalista e, não raro, autoritária em nossas relações sociais e políticas. Politicamente, Moro ainda se equilibra. Até quando manteremos a tensão entre personalidades e instituições?
*Rodrigo Prando é cientista político e professor na Universidade Mackenzie, de São Paulo.