Análise: Possibilidade de traição torna o resultado da eleição no Senado imprevisível

Voto é secreto e a posição dos partidos não condiciona a decisão individual dos senadores

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Por Marco Antonio Carvalho Teixeira
Atualização:

A disputa pela presidência do Senado chama atenção pelas particularidades que a competição assumiu. É a primeira vez, por exemplo, que uma mulher concorre com chances reais de vitória. Diferentemente do que ocorre na Câmara, a disputa não se dá entre grupos prós e contrários a Jair Bolsonaroapesar de ser a Casa a dar a palavra final em um eventual processo de impeachment do presidente da República, caso algum dos pedidos de afastamento passe pelos deputados.

Plenário do Senado Federal Foto: Waldemir Barreto/ Agência Senado

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Rodrigo Pacheco, senador em primeiro mandato pelo DEM-MG, desponta como favorito por reunir uma aliança que junta DEM, PSL, PT, PSOL, dentre outros, e passa pelo apoio de Bolsonaro. Isso mesmo, PT e Bolsonaro estão no mesmo bloco nesta empreitada, apesar de isso não significar nada para a governabilidade do presidente, já que a aliança feita agora vai se dissolver assim que o processo eleitoral terminar. O favoritismo de Pacheco advém do fato de que todos os partidos que declaram apoio a ele reunirem 41 dos 81 senadores. 

O MDB, partido com maior número de senadores, lançou Simone Tebet (MS) para a disputa. A presença dela, tida como antipetista, defensora da Lava Jato e da prisão em segunda instância, certamente colaborou para a formação dessa ampla aliança em torno de Pacheco. Tivesse o MDB lançado outra candidatura, provavelmente partidos de oposição ao Bolsonarismo, como o PT e o PDT, não estariam no 'bloco do governo'.

O resultado é imprevisível. No placar da eleição publicado pelo Estadão nesta sexta, 22, Pacheco tem 31 votos declarados contra 27 de Tebet, sendo que 20 não quiseram responder e um não foi localizado, além dos 2 candidatos (Jorge Kajuru e Major Olímpio) que juntos aos demais compõem os 81 senadores. 

Por fim, convém lembrar que o voto é secreto e que a posição dos partidos não condiciona a decisão individual dos senadores, sobretudo quando esta não será de conhecimento público para quem não queira revelar. É com a traição à orientação partidária que Tebet aumenta suas chances, como também é com essa possibilidade que o emedebista Baleia Rossi (SP) espera se tornar presidente da Câmara dos Deputados.

* É professor e coordenador do curso de Administração Pública da FGV EAESP

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