Estima-se que 310 mil filiados tenham comparecido ao Processo de Eleição Direta (PED) do PT, nos municípios, no último domingo. É o partido brasileiro que mais mobiliza e o que maisinteresse público desperta. Na comparação com os demais, não é pouca coisa. Mas, politicamente, talvez não seja bem assim.
Primeiro, aos números: diante da base de 2.300 mil filiados, apenas 13,47% foram mobilizados por dirigentes e correntes internas. Quanto à base social, o contraste é ainda maior: 310 mil confrontados com os votos de Haddad no 2º. turno de 2018 (47.040. 906), perfazem 0,06% do que o partido alcançou há pouco menos de um ano.
A questão não deve ser reduzida aos números, mas ao fato que politicamente talvez esses eleitores esperassem mais.
É sintomático que das 9 chapas nacionais que disputaram o PED, 5 possuíssem “Lula Livre” no nome; somadas, elas totalizam 87,7% dos votos. Justo que a libertação do ex-presidente seja uma bandeira da legenda e é quase favas contadas que Gleisi Hoffmann, ungida por Lula, seja reconduzida à presidência nacional com essa missão.
Todavia, diante das vitórias do passado, da expectativa que desperta e da história recente que carrega — da qual tem muito a esclarecer — isto também parece insuficiente. É dramático que pouco tenha a dizer ou tenha dito publicamente a respeito de um mundo em vertigem, da democracia em colapso em vários países e do Brasil em transe. No frigir do PED, pouco se sabe o que pensa o PT para além de Lula e a respeito do futuro.
* CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER..