08 de agosto de 2016 | 05h00
Numa interpretação otimista, lideranças do PT falam de “perda de gordura” em benefício de maior autenticidade ou usam a tradicional expressão de desprezo: “ratos abandonando o navio às vésperas de um eventual naufrágio”. Já no extremo oposto, não faltam previsões agourentas anunciando o “definitivo” declínio do partido.
Nem uma coisa nem outra.
Quanto aos ratos, infelizmente para o partido, muitos que se foram não pertencem à espécie. Já outros – gordas ratazanas – continuam, mantendo com firmeza o leme do partido. E não se vê ainda no horizonte uma autocrítica que possa restabelecer uma autenticidade perdida. Mas é um engano imaginar fim catastrófico para o Partido dos Trabalhadores.
A principal razão é que o PT tornou-se a maior expressão do nacional-estatismo, uma cultura política histórica e profundamente ancorada neste País, tanto nas classes populares quanto em expressivos setores das elites. Uma cultura política deste tipo pode sofrer solavancos, altos e baixos e mesmo mutações, mas não há hipótese de que morra de morte súbita. Fundada no âmbito da ditadura do Estado Novo, liderada por Getulio Vargas, com apoio e sustentação nas classes populares e em parcelas expressivas do empresariado e das burocracias civis e militares, o nacional-estatismo, sempre incentivando corporativismos de distinta índole, em diferentes classes e categorias sociais, fincou raízes na Terra dos Papagaios e ainda terá vida longa.
Nesta perspectiva, Dilma e Lula são apenas os atuais herdeiros de Vargas. Mesmo que entrem em eclipse – o que é duvidoso a curto prazo –, a cultura política permanecerá.
* Professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF)
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