Análise: O governo Bolsonaro

São muitos os desafios para o presidente eleito, em especial a pauta da segurança pública, o combate à corrupção e à criminalidade

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Por Rodrigo Augusto Prando
Atualização:

Em 1º de janeiro de 2019 inicia-se o governo de Jair Bolsonaro. Foi candidato vitorioso: presidente, portanto, eleito e, em breve, presidente empossado. Afirmei, alhures, que dos desafios do novo presidente o maior será o de governar, efetivamente. Ganhar a eleição é uma coisa, governar é outra bem distinta.

E sua gestão terá, penso eu, duas principais dimensões: pessoal e governamental. Explico. O primeiro e importante aspecto é alterar, pessoalmente, uma postura de candidato para uma condição de líder. Deveria, portanto, modificar um discurso que foi eficiente numa eleição assentada em ódio, medo e rejeição para uma comunicação dentro dos limites da liturgia do cargo e, por isso, capaz de dialogar com as várias forças políticas, inclusive a oposição, e com a sociedade brasileira.

O presidente eleito se emocionou em cerimônia no TSE. Em seu discurso, Bolsonaro prometeu governar para todos. Conhecido pela forte presença nas redes sociais, ele disse que o 'poder popular não precisa mais de intermediação'. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Bolsonaro apresenta personalidade forte e carismática e, mesmo assim, criou superministérios. Deu vigor político aos seus ministros que, certamente, vislumbrarão posições sempre de grande evidência e que, talvez, gere conflitos com as posições e valores do Presidente. Além de seu ministério, há que se manter os entes familiares e os interesses do Estado dentro de limites republicanos. Tal aspecto não poderá ser, jamais, desprezado, sob pena de alimentar – como já ocorre – ilações acerca da coerência entre o discurso anticorrupção e da prática política vigente de seus filhos e de auxiliares do núcleo duro da República.

Na dimensão governamental, ou seja, de concretizar em ações o que foi prometido em campanha, são muitos os desafios. Urgente e inescapável é pauta da segurança pública: o combate à corrupção e à criminalidade, ambos males que matam, direta e indiretamente, milhões de brasileiros. Outro ponto é como desburocratizar o Estado e, com isso, ser capaz de dar maior agilidade e respaldo ao ímpeto dos empreendedores, gerando emprego e renda e, não menos importante, melhorar a infraestrutura e diminuir o “custo Brasil”.

Sua força e capital político serão, contudo, colocado à prova na apresentação e aprovação da Reforma da Previdência, podendo, aqui, corrigir distorções, acabar com privilégios e projetar um país maus sustentável no médio e longo prazo. Por fim, no campo internacional (na diplomacia e nas relações comerciais), o lulopetismo sempre foi criticado pelo viés ideológico, todavia, substituir uma ideologia por outra, como, por exemplo, o alinhamento automático com os EUA, pode trazer mais problemas que benefícios ao Brasil.

Início de ano sempre traz o sentido de renovação de esperanças, projetos e melhores perspectivas e com o governo vindouro reforça-se tais crenças. Veremos, em breve, se Bolsonaro significará a tal aguardada virada de página ou apenas novos capítulos de uma história já bem conhecida. Asseverou Ortega y Gasset que o “homem é o homem e sua circunstância” e, neste sentido, que o futuro presidente esteja à altura das responsabilidades que lhe serão impostas nos âmbitos político, econômico e social. Sorte para o novo governo, sorte para o Brasil.

* Professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie 

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