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Análise: Lula livre, e agora Bolsonaro?

A principal dúvida sobre o efeito da liberdade de Lula refere-se ao impacto no governo

Por Marco Antônio Teixeira
Atualização:

O retorno físico do ex-presidente Lula à cena política terá inevitavelmente impactos no atual cenário político brasileiro. Vai afetar diretamente o comportamento de Ciro Gomes, que terá um rival altamente credenciado para falar como voz contrária ao governo Bolsonaro, o que certamente fará com que o ex-governador do Ceará repense o tiroteio verbal que antes dirigia contra o PT na busca de se consolidar como líder da oposição e alternativa ao centro. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa em frente à sede da PF em Curitiba, após ser solto Foto: CARL DE SOUZA / AFP

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Liberado da narrativa da campanha Lula Livre, o PT poderá qualificar melhor a sua atuação enquanto oposição no Legislativo, algo que não conseguia fazer e cujo espaço era ocupado por parlamentares de partidos menores como PSOL e Rede. Também pode se planejar, aproveitando justamente da presença física da sua principal liderança, para a disputa das eleições municipais de 2020

Todavia, a principal dúvida acerca do efeito da liberdade de Lula refere-se ao impacto que a mesma terá sobre o governo Bolsonaro. Numa perspectiva mais otimista para os bolsonaristas, Lula solto pode diminuir a cisão e a guerra interna no PSL, bem como conter a fuga de apoiadores do governo pelo simples ressurgimento do perigoso “inimigo comum”. Talvez isso explique em parte o silêncio do governo e de aliados antes ferozes em torno da possibilidade da liberdade de Lula. 

Numa perspectiva menos otimista para o governo, Lula Livre pode organizar a oposição de rua e dar mais coordenação à oposição parlamentar e polarizará com o bolsonarismo. Talvez seja isso o que Jair Bolsonaro queira e isso que o PT também deseje. Parece que existe um sentimento comum a ambos: o triunfo de um depende da presença do outro. Entretanto, é preciso ver se a sociedade vai novamente se dividir entre esses dois polos ou se será possível apostar numa saída ao centro, que sequer deu sinal de vida.

*PROFESSOR E PESQUISADOR NA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (FGV)

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