Do ‘golden shower’, mesmo antes, à fábula do leão e as hienas, neste menos de um ano de governo, episódios assim têm banalizado o absurdo; normalizado a agressão gratuita e o disparate. Não mais se pergunta “o quê” ocorreu – os acintes já compõem o cenário. Mas com qual objetivo eventos assim se repetem sem-cerimônia e “atrevimento”, para usar a expressão do decano.
Seria para retirar foco de fatos que constrangem a família Bolsonaro; desta vez, as novas revelações em torno de Fabrício Queiroz? Seria para minimizar a euforia dos adversários em razão da eleição argentina? Ou seria para forjar um clima de provocação e brutalidade, agitando as bases e precipitando-se a eventuais protestos, como os que têm brotado pelo mundo?
Estranho, porque a oposição nada fez; o Supremo muito menos. Ambos têm sido até camaradas.
Pode ser um pouco de tudo, além da simples e permanente disposição ao conflito, é claro. Quem se pinta para a guerra é incapaz de suportar qualquer fresta de paz. E também por estultice, mesmo – aprendemos que a ela o Criador não pôs limites. Nestes tempos, tudo pode ser.
Mais uma vez, o presidente busca fazer crer que bastam suas escusas; “publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas”, como disse, no exercício de seu inconfundível estilo. Mas, gestos assim não se diluem no vento: ou minam as instituições, deixando-as à mercê de aventureiros; ou esgarçam o tecido social; ou abalam a credibilidade da Presidência da República, que requer dar-se ao respeito. Não há desfecho bom quando o despropósito torna-se vulgar.
* CIENTISTA POLÍTICO, É PROFESSOR DO INSPER