O novo governo enfrentará o cenário internacional mais turbulento e complexo desde 1945. Profundas e rápidas transformações políticas, econômicas, estratégicas e tecnológicas geram instabilidade, incertezas e inseguranças, agravadas pela ameaça de guerra comercial entre EUA e China.
O Brasil está fora dos fluxos dinâmicos da economia e do comércio exterior e isolado nas negociações de acordos de comercio. Está atrasado em inovação/tecnologia, perdeu poder e influência e registrou um crescimento inferior ao da maioria dos países. Uma das dez maiores economias do mundo, o Brasil terá de buscar um lugar adequado no cenário internacional. O desafio é promover uma crescente integração do Brasil no comércio internacional, tanto no âmbito comercial quanto no de serviços e fortaleer a voz do pais nos foros internacionais.
Ao anunciar as prioridades da política externa, o novo governo terá de definir o que o Brasil quer da relação com os EUA (sem alinhamentos automáticos), com a China, com a Europa e com seu entorno geografico para poder definir os interesses estratégicos do pais. O novo governo terá de enfrentar o desafio de assumir uma atitude proativa no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, ampliar a liberalização comercial, aprofundar os acordos vigentes a integração física.
Em relação ao Mercosul, depois de 27 anos, não se poderá adiar uma avaliação de seu funcionamento e decidir se as negociações com terceiros países continuarão a ser com uma única voz ou se os entendimentos serão bilaterais. O relacionamento com a Venezuela deveria merecer atenção especial, já que interessa ao Brasil contribuir para uma solução política para a crise interna e para o acolhimento, a proteção e a assistência aos refugiados. O cancelamento do convite para a posse marginaliza o país nessas discussões.
Uma nova estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais deverá ser definida para pôr fim ao isolamento do Brasil, com ênfase na abertura de novos mercados e na integração do Brasil às cadeias produtivas globais. As negociação do Mercosul com a União Europeia deveriam ser concluídas. Os entendimentos com o Japão, com o Canada, a Coreia, a EFTA e Cingapura deveriam ser acelerados.
A realidade vai recomendar a participação do Brasil nas organizações internacionais, inclusive no acordo de Paris de mudança de clima, e a apoiar o ingresso do Brasil na OCDE, além de buscar formas de ampliar nossa participação política e econômica no BRICS e no G-20.
* Rubens Barbosa é presidente do Institituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)