Coligações regionais entre partidos que são adversários na política nacional parecem desafiar a lógica do eleitor, mas o fato é que a realidade nos estados e nos municípios apresenta uma dinâmica política muito diferente à do País.
O cientista político Humberto Dantas, em sua tese de doutorado, mostrou que coligações entre partidos adversários nacionalmente são bastante comuns nos municípios, até porque as forças políticas e as preferências do eleitor estão muito mais ligadas ao personalismo do que aos partidos.
Há anos o PMDB se caracteriza por divisões regionais, especialmente com líderes que dominam os estados, como José Sarney, Renan Calheiros e outros. Estas lideranças do PMDB possuem diálogo entre si no âmbito federal, mas não invadem o espaço do outro nos estados. Daí a dificuldade em lançar um candidato a presidente.
Já o PT possui um comportamento diferente, bem mais centralizado, a ponto de influenciar a escolha de candidatos nos estados e municípios. Entretanto, as denúncias de corrupção e o impeachment de Dilma Rousseff enfraqueceram o PT, e isto ficou evidente nas eleições de 2016. Esta situação apresenta um novo desafio ao partido, que precisa se preocupar em garantir o espaço que lhe restou e evitar o crescimento de outras forças de esquerda que possam ameaçá-lo.
Nunca é demais lembrar que a aliança PT-PMDB nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma ocorreu por conveniência política, e não ideológica. A narrativa do golpe contra Dilma, que é bem aceita entre os militantes de esquerda, não deve ser muito afetada por eventuais coligações regionais.
Afinal, assim como houve uma narrativa para justificar Michel Temer como vice-presidente de Dilma, outras narrativas justificarão as aproximações nos estados.
*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO