Análise: Bolsonaro e Moro, amizade por conveniência

Para analista político, não será novidade se a temperatura baixar nas relações entre o presidente e seu ministro

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Por Marco Aurélio Nogueira
Atualização:

No momento em que é mais forte o cerco à Operação Lava Jato, com ações cruzadas provenientes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do próprio presidente da República, chama atenção a troca de gentilezas entre Sérgio Moro e Jair Bolsonaro. 

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Não será novidade se a temperatura baixar nas relações entre o presidente e seu ministro. Bolsonaro necessita do prestígio e da popularidade de Moro para tentar reduzir o efeito das pesquisas que mostram uma piora na avaliação do governo, e Moro não terá como respirar sem o apoio presidencial, especialmente importante para reduzir o impacto das decisões do STF sobre a Lava Jato e do Congresso sobre o pacote anticrime ou a Lei de Abuso da Autoridade.

O abraço entre eles, porém, está sustentado por conveniências. Nada garante que o fogo não voltará a arder mais à frente. Bolsonaro já demonstrou que fará tudo para proteger os filhos e seus negócios. Sua postura de combate à corrupção virou mera promessa de campanha, sem qualquer tradução política prática. Não há indícios de que seu governo dará atenção dedicada ao problema da criminalidade e da corrupção.

O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Justiça e Segurnaça Pública, Sérgio Moro Foto: Gabriela Biló/Estadão

Moro precisa do presidente para mostrar que ainda tem força no governo, no qual se tornou figura apagada. Não poderá largar pelo caminho a bagagem acumulada durante seus anos de juiz. Ele somente se tornou campeão de popularidade por causa da Lava Jato, modelou-a pedaço a pedaço, converteu-a em força política. Acumulou inimigos com isso. Associou-se tanto à operação que sem ela ficará sem rumo. 

Se o bolsonarismo enquadrar o governo de cima a baixo, arquivando a agenda anticorrupção, Moro será um peão a ser sacrificado. Amizades por conveniência são usuais em política. Bolsonaro pode já ter sugado todo o sangue de Moro. Um ministro da Justiça exangue e extenuado talvez agrade aos projetos políticos do presidente, mas com certeza não trará qualquer benefício a seu governo, nem muito menos à vigência de uma Justiça que se faça digna do nome. 

*PROFESSOR TITULAR DE TEORIA POLÍTICA E COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS E ANÁLISES INTERNACIONAIS DA UNESP

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