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ANÁLISE: Às vésperas de mais um protesto, a busca por uma rede de apoio

Antes acuada, a presidente Dilma Rousseff agora irá para o enfrentamento político e usará a tática do medo para defender o mandato

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Por Vera Rosa
Atualização:

A uma semana dos protestos contra o governo, a presidente Dilma Rousseff vai adotar nova estratégia para sair da crise. Antes acuada, Dilma agora irá para o enfrentamento político e usará a tática do medo. A ideia é defender o mandato pelo País, como fez anteontem em Roraima, e dizer que quem aposta em solução fora do script eleitoral põe em risco a estabilidade da economia. 

Dilma pretende construir uma frente de apoio - formada por governadores, empresários, representantes da academia, dos movimentos sociais e parlamentares - para proteger o governo das ameaças de impeachment. Trata-se de mais um gesto simbólico para mostrar que não está isolada.

PresidenteDilma Rousseff e ovice-presidente Michel Temer Foto: Andre Dusek/Estadão

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Ministros do PT têm conversado não apenas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas com políticos influentes da fraturada base aliada e até do PSDB. Aos tucanos que têm dúvidas sobre a conveniência de apoiar o afastamento de Dilma, o argumento dos petistas é o de que, se vencer as eleições de 2018, o PSDB não vai querer receber um País dividido, com ódio político e a economia em frangalhos.

A estratégia do Planalto é mostrar que um possível processo de impeachment terá sérias consequências no ambiente econômico, dificultando investimentos e ampliando as incertezas sobre o Brasil no cenário internacional. 

Ao se reunir com a presidente e outros colegas de Esplanada, na quinta-feira, um ministro usou uma imagem sombria para resumir a tempestade perfeita que ataca o governo. “É como se a gente estivesse num túnel escuro, sem gordura para queimar”, disse.

Apesar de ter iniciado consultas para a reforma ministerial, Dilma não definiu as mudanças na equipe. Articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB, está sem munição suficiente para atender aos apelos da base, mas, por enquanto, continuará com a mesma tarefa.

Após uma derrota atrás da outra na Câmara presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governo promete acelerar a liberação de cargos e emendas parlamentares, mas tem esbarrado no ajuste fiscal. Em conversas reservadas, ministros políticos argumentam que, para o ajuste não naufragar, o titular da Fazenda, Joaquim Levy, precisa “abrir a mão”. 

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Até o PC do B, que apoiou o PT em todas as campanhas presidenciais, está insatisfeito com o governo. “O modelo da base de apoio da presidente no Congresso faliu”, disse o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder do governo e ex-ministro do Esporte. “Ou o governo faz uma rearrumação ou não há saída. Não se trata só de reforma, mas de mudança no padrão de relacionamento. Não dá ministro que representa um partido não ter autoridade em relação à bancada do partido.”

Isso foi o que mais se viu na última semana, na volta do recesso parlamentar. “Vocês deixaram Temer sobrecarregado e lavaram as mãos”, esbravejou Dilma, em conversa com ministros petistas, reclamando da falta de “marcação” sobre o Congresso.

Antes da votação que reajustou salários de advogados públicos e de outras carreiras, na madrugada de quinta, a Secretaria de Relações Institucionais disparou e-mail para 20 ministros de partidos diferentes com os nomes dos deputados que haviam se posicionado contra a retirada da proposta da pauta. Era uma tentativa de fazer com que eles pressionassem os parlamentares, mas não adiantou.

Agora, Dilma vai tentar derrubar a pauta que aumenta os gastos do governo no Senado. É na Casa comandada por Renan Calheiros (PMDB-AL) que ela aposta para evitar o impeachment. A Operação Lava Jato e as CPIs na Câmara são tormentas na vida do governo, mas o perigo real e imediato será medido pela temperatura das ruas no 16 de agosto.

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