A eclosão do caso Emir Sader encobre um problema maior e de mais difícil resolução: Ana enfrenta resistências duras dentro do PT e seus aliados na área cultural, o PC do B e o PV. Ao definir a questão da propriedade intelectual como uma discussão de fundo privado, desagradou de A a Z dentro do espectro da economia criativa. Dos “moderados” , como o antropólogo Hermano Vianna e o professor e músico José Miguel Wisnik, aos radicais, como o sociólogo Sergio Amadeu e o professor Ronaldo Lemos, da FGV, todos acham que falta estofo teórico ao MinC para conduzir a questão.
As mostras de descontinuidade contradizem seu discurso de posse, quando disse que era preciso avançar nas conquistas das gestões anteriores. Trocou o notável curador Paulo Herkenhoff da organização do festival Europalia, na Bélgica, apressadamente ano, alegando que o orçamento da participação brasileira era muito elevado. Ocorre que a estratégia de divulgação da cultura brasileira no exterior era uma das meninas dos olhos de Gilberto Gil, inspirado nos modelos francês, britânico e alemão, que são vencedores.
Ana ainda perde gradativamente os aliados do tema Cultura no Congresso. De Manuela D`Ávila (PC do B) a Angelo Vanhoni (PT), passando por gente da oposição, todos tem dado demonstração de ceticismo quanto às capacidades da ministra em contornar situações difíceis e buscar consensos. Aliás, consenso é algo que não parece estar em seus planos. Não fez nenhuma reunião com a classe artística e se conduz dentro de uma rotina de gabinete – eventualmente fugindo dela para fazer “incertas” entre a população, como no recente caso das enchentes. É mais reativa do que ativa, deixando-se levar às cordas pelos oponentes, em vez de sair na frente (até agora, nem um artigo seu saiu em jornais, defendendo suas posições, e sua única entrevista foi vaga e demonstrou que tem se preparado pouco para os duelos que o cargo exige).
Mesmo seus colaboradores mais próximos parecem estar desanimados, não vêm a público fazer sua defesa. A ministra agarra-se ferrenhamente a aliados cuja militância cultural é esporádica, como Caetano Veloso, ou cuja atuação presta-se mais ao lobbismo (chegou a postar no site do MinC, na semana passada, trecho de artigo em que um articulista chamava o Creative Commons de “organização laranja”. Chegou a exigir que Emir Sader se retratasse com Caetano, a quem Sader acusou de ser conservador e egoísta. Sader negou-se, o que parece ter conduzido ao seu desligamento. Acabou sendo o “diretor que foi sem nunca ter sido”, já que nem chegou a assumir.