Análise - A pacificação política antes da unificação nacional

Michel Temer começa a governar com um Ministério que está mais enxuto, experiente e focado em fazer do Brasil o País da ordem e do progresso apregoados na Bandeira Nacional, diria um observador animado com os novos tempos pós-impeachment. Outro espectador, cético em relação ao que vem por aí, veria uma equipe dominada por homens, sem uma só mulher para quebrar a predominância das gravatas e das cabeças calvas e grisalhas conhecidas em Brasília, e com alguns nomes tão suspeitos de tenebrosas transações quanto a turma que deixou o Planalto horas antes.

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Quem tem razão? Ambos, afirmaria um terceiro, distanciado das paixões de vitoriosos e derrotados de uma disputa que, por natureza da arena política, é contada por símbolos e narrativas.

Nova equipe: Temer e Jucá, na cerimônia de posse Foto: André Dusek/Estadão

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O terceiro peemedebista a assumir a Presidência chegou ao Planalto com a proposta de “pacificar a Nação e unificar o Brasil”. Temer disse que vai manter os programas sociais que marcaram a gestão petista, ao mesmo tempo em que defendeu parcerias com o setor privado e reformas do Estado. Destacou a importância da governabilidade e do diálogo e prestou deferência “institucional” à presidente afastada Dilma Rousseff.

O discurso soa como aceno ao mercado e aos movimentos sociais, a empregadores e empregados que esperam um mercado de trabalho recuperado. Como retrato de uma nova gestão, Temer e os 23 ministros, vindos das cinco regiões do País e de 11 partidos, deixam em segundo plano a construção de pontes não só com as mulheres, mas em especial com quem desde 2013 se mostra cansado das velhas práticas de composição e cordialidade da política brasileira. Também dão argumentos para Dilma insistir na narrativa de “golpe” e de “questão de gênero” no processo de impeachment. Para fazer valer o novo discurso, Temer aposta na pacificação política. Quem paga para ver se o ganho será a unificação nacional?

*Iuri Pitta é jornalista de O Estado de S.Paulo

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