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Amorim espera reação mais branda do governo boliviano

Ministro das Relações Exteriores foi à Bolívia com a missão de se reunir com presidente Evol Morales

Por Agencia Estado
Atualização:

A apenas quatro dias do anúncio de uma volumosa injeção de recursos da Venezuela na Bolívia, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dará amanhã ao presidente boliviano Evo Morales a clara mensagem de que o Brasil quer mantém seu projeto de cooperação de longo prazo com o país vizinho e alavancar outros segmentos produtivos, além do gás e do petróleo. Mas indicará que esse sinal de boa vontade somente será efetivado com a adoção de um marco de segurança jurídica, o ressarcimento do patrimônio da Petrobrás no país e o tratamento digno aos brasileiros que venham a ser afetados por sua reforma agrária. Amorim ainda deixará claro a Morales que o Brasil não pretende jogar um braço de ferro com a Bolívia. Entretanto, prosseguirá com suas iniciativas de buscar a autosuficiência de gás natural e a diversificação de suas fontes de energia. "Queremos manter o nosso engajamento de longo prazo com a Bolívia. Não por generosidade ou por ideologia. Mas por uma decisão de Estado, que vem de alguns governos anteriores, sobre a necessária ajuda ao desenvolvimento e à estabilidade da Bolívia", afirmou Amorim, durante o vôo de Brasília a La Paz, na manhã de ontem. "Embora o governo boliviano diga o contrário, a transferência de propriedade da Petrobrás é uma expropiação. Mas se houver indenização, não será tão dramática." Amorim desembarcou no início da tarde otimista em encontrar um comportamento mais brando das autoridades bolivianas, que mostraram-se mais propensas a atitudes agressivas no episódio da nacionalização dos setores de gás e de petróleo. Nacionalização Elaborado unilateralmente, o decreto com os termos da nacionalização trouxe artigos mais radicais, foi divulgado com mais de um mês de antecedência e seu anúncio pirotécnico, no dia 1º de maio, foi acompanhado pela ocupação militar das plantas da Petrobrás na Bolívia. Posteriormente, Morales nomeou interventores também das Forças Armadas para a direção da empresa e, no dia 11, em Viena, elencou a estatal brasileira entre as petroleiras "sonegadoras e contrabandistas". Com otimismo, Amorim assegurou que sua missão hoje, em La Paz, não será a de negociar questões pontuais sobre o abastecimento do gás boliviano ao Brasil, como o reajuste de preços pleiteado pela Bolívia, nem as condições da permanência ou não da Petrobrás no país. Mas destacou que espera que os resultados das negociações que estão sendo conduzidas, do lado do Brasil, pelo Ministério de Minas e Energia e a própria Petrobrás, favoreçam a ambos os países e mantenham o interesse brasileiro na compra de gás boliviano. Tratam-se dos princípios aceitos pela Bolívia no encontro presidencial de Puerto Iguazú, no dia 3, e na primeira rodada bilateral, em 9 de maio. "Não vou tomar o lugar da Petrobrás", resumiu. Apesar do interesse do Brasil de manter algumas influência geopolítica sobre La Paz e de, ao menos, não permitir o completo controle do país vizinho por Hugo Chávez, da Venezuela, os sinais de boa vontade do governo brasileiro somente sobreviverão se houver um clima favorável para as conversas de hoje nos gabinetes de La Paz. A tarefa de Amorim, a rigor, será a de reconstruir as pontes queimadas pelos bolivianos com as atropeladas decisões e declarações sobre o processo de nacionalização. Mas, igualmente, de defender os interesses brasileiros no país vizinho. O chanceler indicou que estará pronto para refutar o argumento batido por Morales e seus assessores em cada evento público e privado, e aceito como bordão pelas massas, de que seu país foi "vítima" de um processo de exploração nos últimos 500 anos. Também salientou que, à primeira vista, o governo boliviano subestimou a reação da opinião pública brasileira à maneira como foi anunciada e conduzida a nacionalização dos recursos naturais. "Não fomos nós que, no passado, exploramos abusivamente o estanho e a prata na Bolívia", atalhou o chanceler. Sojeiros - Com o cuidado de não ameaçar com retaliação sobre os cerca de 80 mil bolivianos que vivem no Brasil, Amorim deverá cobrar de Morales que o respeito ao tratamento aos brasileiros que venham a ser afetados pela reforma agrária, ainda em fase de elaboração. Até setembro, permanece em vigência do acordo bilateral de regularização de cidadãos bolivianos no Brasil e de brasileiros na Bolívia. A expectativa é que, uma vez mais, venha ser renovado. Mas o movimento pode ser o contrário. O chanceler salientou que as mensagens das autoridades da Bolívia têm sido tranqüilizadores e que dificilmente La Paz tomaria medidas prejudiciais aos cultivadores de soja, que respondem por 60% da exportação do produto pelo país. Mas o fato de apenas 15% das propriedades de terra serem regulares na Bolívia preocupa Brasília, assim como a situação dos cerca de 7.000 brasileiros estabelecidos como posseiros na região do Pando, no Norte boliviano. Amorim afirmou que o Brasil está disposto a incluir autoridades bolivianas nos consulados itinerantes que farão o levantamento dessa população em situação irregular.

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