América do Sul está melhor preparada para enfrentar crise, diz Lula

No Chile, presidente diz que países da região estão em 'situação privilegiada' em comparação a períodos anteriores.

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Por Marcia Carmo
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste sábado, no Chile, que os países da América do Sul estão melhor preparados que em outros tempos para enfrentar a atual crise internacional. "Essa é a primeira crise na qual não estamos precisando que os ricos nos deem dinheiro. Não estamos chorando, não estamos pedindo nada", disse Lula em entrevista a jornalistas brasileiros, antes de embarcar de volta para o Brasil. "Eu acho que os países da América do Sul estão numa situação privilegiada se compararmos com outras crises, quando nós estávamos nus diante da crise." Segundo o presidente, desta vez os países da América do Sul estão preparados. "Todos os países têm reservas, déficit fiscal pequeno, dívida pública menor que antes", disse Lula, depois de participar da Reunião de Líderes Progressistas, no balneário chileno de Viña del Mar, a uma hora e meia de Santiago. Para o presidente, no caso do Brasil, que "não está precisando de dinheiro", o importante é que "os ricos resolvam seus problemas". "Quando eles resolverem os problemas de crédito e de confiança interna e voltarem a produzir e a consumir, nos vamos vender (reativando a economia)", afirmou. "Lamentavelmente, vocês têm mais responsabilidade", disse Lula. "A locomotiva tem sempre mais responsabilidade que o vagão.' Segundo o presidente, o encontro em Viña del Mar foi uma oportunidade para conversar com o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, anfitrião da próxima reunião do G20, que ocorre na quinta-feira, em Londres, e com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. "Saio daqui convencido de que começamos a formar um bom caminho para encontrar soluções no G20", disse. Lula destacou que as pessoas não devem esperar que esta reunião "salve a humanidade", mas que será possível avançar nas discussões sobre o restabelecimento do crédito mundial para facilitar o fluxo na balança comercial e que as instituições financeiras possam garantir recursos para os países que necessitem. O presidente afirmou ainda que já não são mais Estados Unidos e Europa "que falam e os outros obedecem" e que agora é preciso levar em conta o que a China e a Índia, entre outros, querem. Ele disse que sugeriu a Brown que inclua na agenda de discussões a proposta de mudanças no mercado futuro de commodities, como soja e petróleo, fazendo com que os compradores paguem uma parte, como prova de que desejam o produto, deixando claro que não estão apenas especulando com o preço. Essa especulação, segundo o presidente, pressionou no ano passado a alta do petróleo e da soja. Em seus discursos durante o encontro dos chamados líderes progressistas, Lula disse a crise internacional não pode ser motivo para o retorno do protecionismo. "Agora que a globalização mostra sua face oculta, não devemos recuar para as trincheiras do protecionismo ou da autarquia", afirmou. O presidente disse que "o mundo está pagando o preço do fracasso de uma aventura irresponsável daqueles que transformaram a economia mundial em um gigantesco cassino". Segundo ele, "jovens yuppies de 30 anos davam palpite sobre a economia boliviana, mas não sabiam onde estava a Bolívia". Para Lula, o desemprego é hoje uma das maiores preocupações geradas pela turbulência econômica global. O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que representou o presidente Barak Obama no encontro, afirmou em seu discurso que Lula lhe dissera, no jantar da véspera, que o desemprego é hoje a maior preocupação, já que poderia persistir mesmo depois do fim do período recessivo. Biden disse que não pretendia dar receita aos demais países, mas destacou que a economia americana representa 25% do PIB mundial e que é preciso fazer "esse motor funcionar", porque influenciará o restante do mundo. O premiê britânico, Gordon Brown, voltou a falar na necessidade de reformas no FMI e ainda de se colocar em prática os pensamentos e princípios que os "progressistas" defendem, como melhorias nos serviços públicos de saúde. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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