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Alvo da PF operou offshores no Panamá

Ademir Auada, preso na Lava Jato, é ligado a 29 empresas em documentos da Mossack Fonseca

Foto do author André Shalders
Por André Shalders , Fernando Rodrigues , Mateus Netzel , Douglas Pereira e do UOL
Atualização:
Protestos de rua pedem a queda do governo em Malta Foto: Darrin Zammit Lupi/Reuters

O empresário Ademir Auada, preso na fase “Triplo X” da Operação Lava Jato, atuava como intermediário na venda de offshores criadas pela empresa de advocacia e consultoria panamenha Mossack Fonseca. Arquivos da companhia listam 29 empresas em que Auada aparece como intermediário. Esse tipo de operação dificulta a revelação da identidade dos verdadeiros donos.

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Os arquivos da Mossack Fonseca revelados pela série Panama Papers mostram que Auada era o contato entre a firma panamenha e a publicitária Nelci Warken. Para a Polícia Federal, Nelci era “testa de ferro” num esquema montado pela Bancoop, o PT e a OAS. O objetivo seria esconder a verdadeira propriedade de imóveis do Condomínio Solaris, no Guarujá.

Durante as investigações da Lava Jato, a Polícia Federal levantou a suspeita de que um apartamento tríplex no Condomínio Solaris pertenceria à família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o que o petista nega.

Ademir Auada foi preso na 22ª fase da Lava Jato, quando voltava de viagem ao Panamá. A “Triplo X”, como foi batizada, investiga se a OAS lavou dinheiro por meio de negócios imobiliários que beneficiaram o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

Auada foi solto em fevereiro, juntamente com Nelci Warken. A Procuradoria Geral da República decidiu não requerer prisão preventiva dos dois.

A série Panama Papers, que começou a ser publicada no diz 3 de abril, é uma iniciativa do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), organização sem fins lucrativos e com sede em Washington, nos EUA. Os dados foram obtidos pelo jornal Süddeutsche Zeitung. O material está em investigação há cerca de um ano. Participam desse trabalho com exclusividade no Brasil o UOL, o Estado e a RedeTV!.

Representante. Em vários casos, inclusive no de Nelci, os funcionários da Mossack recebem instruções para “nunca contatar os clientes”. Eles deveriam contatar Auada.

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Em 2012 e 2013, Auada esteve no Panamá para tratar diretamente da documentação das empresas de Nelci (Hazelvile International Inc. e Woodbay Holdings SA) e da Murray Holdings LLC, offshore dona de imóveis no edifício Solaris.

Os arquivos da Mossack Fonseca apresentam 1.236 menções ao nome de Auada. Dão indícios de uma relação longa e produtiva entre eles. O empresário paulistano trabalha com a empresa panamenha pelo menos desde 2001.

Há registro de várias reuniões entre ele e Mercedes Riaño, chefe da Mossack Fonseca Brasil, foragida da Polícia Federal brasileira desde que a fase “Triplo X” da Lava Jato foi deflagrada, no final de janeiro.

Auada também viajava muito ao Panamá para se encontrar pessoalmente com funcionários da matriz da Mossack Fonseca. Um deles comenta, em registro de 2001, que o empresário ia ao Panamá a cada 40 dias, em média.

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Efeito Lula. Em uma de suas viagens, em maio de 2002, Auada fez avaliações sobre as eleições brasileiras durante um jantar com funcionários da Mossack. O relato está assim em documento dos Panamá Papers: “As eleições presidenciais (no Brasil) ocorrerão em outubro deste ano (2002). A esquerda é muito forte e, se ganhar, seria muito ruim para o país, mas bom para seus negócios”.

O contexto dessa citação de Auada era o de que a eventual chegada do PT ao Palácio do Planalto produziria alguma reação de pânico entre os brasileiros mais abastados. Dessa forma, muitos poderiam desejar abrir empresas offshores para enviar recursos ao exterior – o que ajudaria os negócios da Mossack Fonseca.

Defesa. A reportagem conversou com Edvaldo Kavaliauskas, advogado que representa Auada nos processos da Lava Jato. O advogado confirmou a relação de seu cliente com a Mossack Fonseca, mas disse que ele deixou de trabalhar com os panamenhos há cerca de dois anos. “Se subsistia alguma relação, era só o pagamento de anualidade de firmas que ele intermediou antes”, disse.

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Segundo Kavaliauskas, Auada trabalhava como uma espécie de “despachante” internacional, auxiliando empresas na “redução da carga tributária”. Ele informa que Auada possuía clientes no Panamá e em outros países, o que justificaria suas frequentes viagens.

Em e-mail, a defesa de Auada também contestou o número de empresas encontradas em meio aos Panama Papers. Eis a íntegra da mensagem:

“Junto à empresa Mossack Panamá, o sr. Ademir utilizou dos serviços desta empresa no registro e certificação de 19 empresas e não 29 como constou, sendo que, dessas 19, três se encontram inativas.”

“Com relação as viagens ao Panamá, informamos que essas são inerentes à atividade de consultor internacional, (que) possui uma empresa naquele país devidamente declarada aos órgãos brasileiros, de seus serviços depreende-se a busca de negócios e mercados, visando à expansão comercial bem como a redução de custos operacionais para seus clientes, tudo em decorrência da instituição da Zona Franca de Colon. Salienta-se que as viagens não se restringem ao Panamá, pelo contrário, efetua um maior número de viagens para outros países, pois, além do serviço de consultoria, atua como agente referenciador bancário.”

A nota diz ainda que seus serviços junto à Mossack se limitavam a “dar suporte com a documentação para realização de alterações contratuais e documentais, quando necessário”.*Além da equipe do UOL, participam da apuração dos Panamá Papers no Brasil os jornalistas José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Guilherme Jardim Duarte, Isabela Bonfim e Mateus Coutinho, de O Estado de S. Paulo, e Diego Vega e Mauro Tagliaferri, da RedeTV!.

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