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ALN ganhou dólares e deu rolex a Kim

Zarattini quis enviar ao país asiático brasileiros que estavam em Cuba

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Por Redação
Atualização:

O regime comunista de Pyongyang mantinha contatos com a direção da Ação Libertadora Nacional (ALN), a quem enviou maletas com dólares e ainda aceitou acolher 14 militantes da organização para treinamento. As relações da direção da ALN - o maior grupo da guerrilha urbana no País - com a Coreia do Norte foram importantes.Prova disso é o depoimento do então militante Aloysio Nunes Ferreira Filho no documentário Tempo de Resistência. Aloysio acompanhara em 1969 o líder da ALN Joaquim Câmara Ferreira até a embaixada coreana em Paris. Na saída, os dois tomaram conhecimento da morte de Carlos Marighella, fundador da organização - Ferreira então voltou ao Brasil e assumiu o comando da ALN até ser morto pela polícia, em 1970.Quem primeiro revelou as remessas de dinheiro para a ALN no Brasil foi um dos comandantes militares da organização, o escritor Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente. Ele conta que uma das remessas chegou à ALN em São Paulo em 1971. O dinheiro, cerca de US$ 50 mil, serviu para manter os planos de se criar uma área estratégica de guerrilha rural no País."A Coreia ficava longe e não tinha pretensões de interferir na política interna da organização. Não tínhamos lá 20, 30 ou 40 militantes como tínhamos em Cuba", disse Clemente. Ele havia revelado o recebimento do dinheiro coreano em seu livro Nas Trilhas da ALN. Uma vez, seu grupo, depois de "expropriar uma joalheria em São Paulo" resolveu mandar as joias para o exterior."A organização não tinha relação com contrabandistas ou receptadores. Não tínhamos o que fazer com as joias e mandamos tudo para o exterior. Mas o Iuri (Iuri Xavier Pereira, morto em 1972 pelo DOI do 2º Exército) resolveu retribuir as maletinhas e mandou um rolex de ouro para o marechal Kim Il-sung (pai do atual secretário-geral do PC do país, Kim Jong-Il)."Em Cuba, outro dirigente da ALN, Ricardo Zarattini, tentou convencer integrantes da organização que treinavam na ilha para que eles fossem à Coreia e ao Vietnã - 14 iriam para o primeiro e dez ao segundo. Era uma forma de impedi-los de voltar ao Brasil, onde podiam ser presos e mortos. "Eu e o Rolando Frati procuramos os embaixadores." Mas os jovens resistiram ao plano.Mesmo assim, a Coreia manteve o convite a Zarattini. Ele esteve em um congresso em Pyongyang. "Tinha de fazer um discurso e eles (os coreanos) queriam que eu botasse uma saudação (a Kim Il-sung) "estimado e querido e estimado líder de 40 milhões de coreanos" e uma porrada de elogio, e eu não queria escrever aquilo. Em uma semana que fiquei lá, foram quatro dias só em torno dessa discussão." O discurso saiu sem muito elogio, mas com alguns a Kim Il-sung. "Era uma idolatria tremenda." No fim, o grupo que Zarattini quis enviar à Coreia voltou para o Brasil. Como ele temia, a maioria acabou morta pela repressão.

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