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Alemanha não sabe onde jogar lixo atômico de 20 usinas

Por Agencia Estado
Atualização:

O lixo atômico e os restos das 20 usinas nucleares que a Alemanha pretende desativar nos próximos 17 anos se transformaram no maior mico para o governo do chanceler (chefe de governo) Gerhard Schröder e, certamente, para os futuros governos, caso ele não consiga ser reeleger pela segunda vez em 2006. O governo alemão não sabe onde vai depositar esses detritos. Dentro do país, terá de enfrentar a fúria dos ecologistas e a das organizações não-governamentais. Fora da Alemanha, será difícil encontrar alguém disposto a receber o "mico atômico" e, se conseguir, ninguém no governo imagina quanto custará o "aluguel" para as usinas que começam a ser desativadas ainda este ano. Os números preliminares com os quais trabalha o governo indicam bilhões e bilhões de euros. "Até hoje, não sabemos onde será o depósito final, já que esse tipo de detritos exige extrema segurança", reconheceu Martin Schöpe, alto funcionário do Ministério de Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha. De acordo com ele, existem hoje alguns países que estariam dispostos a receber detritos atômicos, porém, em troca de grandes somas de dinheiro. Mas, esclareceu o funcionário do ministério, "nossa política não é a de transferir problemas para outras nações, razão pela qual estamos procurando locais no território alemão". Energia suja e insegura - Schöpe comentou, ainda, que o lixo atômico gerado pelas usinas nucleares alemãs foi um dos principais motivos pelo abandono do programa de energia produzida por essa fonte no país. Com impressionante transparência, não muito comum em funcionários de órgãos públicos ao redor do mundo, Schöpe contou que, atualmente, não existe em nenhum lugar do planeta um método totalmente seguro para enterrar detritos nucleares. "O problema é o depósito final, não aqueles temporários, como os que existem hoje", disse. Indagado sobre quais países estariam dispostos a receber detritos atômicos, Schöpe citou rapidamente a Rússia e o Cazaquistão. "Nações como essas são politicamente estáveis, o que traria maior tranqüilidade. O problema está em países politicamente instáveis, onde, claramente, o risco seria muito, mas muito grande", explicou. Por isso, acrescentou o funcionário do ministério, "nosso objetivo não é enviar detritos nucleares para locais onde existe pouca segurança". Como cidadão, não como funcionário do governo alemão, qual seria a sua sugestão para enterrar todo o detrito nuclear a ser gerado com a desativação das usinas?, perguntou a Agência Estado a Schöpe. "É difícil não deixar de pensar nas futuras gerações. Tenho dois filhos, por isso acredito ser necessário pensar em segurança, em muita segurança, independentemente do lugar", respondeu. Custo alto - Ainda este ano, a primeira usina nuclear alemã, que se encontra perto de Hamburgo, começará a ser desativada. Em 2004, será mais uma, a de Obrigheim, perto de Heilbronn, ao sul do país. Nos próximos 17 anos, estarão todas no chão. Isso, porém, se nenhum governo decidir interromper o programa. Os custos ninguém sabe informar, nem mesmo os técnicos do Ministério de Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear. Jörg Kirsch, engenheiro da Divisão de Política Energética da Secretaria de Energia, contou que a desativação de duas usinas nucleares consideradas obsoletas que estavam erguidas na ex-Alemanha Oriental custou 2 bilhões de euros (US$ 2,36 bilhões). Pior, colocá-las no chão demorou de 1991 a 1998. Mas os custos não param aí. O governo gasta hoje cerca de 500 milhões de euros (US$ 590 milhões) por ano na recuperação e saneamento dos locais de onde era extraído o urânio. A idéia do programa energético alemão é reduzir, até o ano 2020, a energia produzida em usinas nucleares e substitui-la por fontes renováveis (água, vento, queima de biomassa e solar). O ambicioso programa alemão prevê, por exemplo, transformar, até 2050, metade de toda a energia produzida hoje no país em energia renovável. Nos próximos anos, o governo quer que essa parcela suba dos atuais 8% para 10% e, em 2010, alcance 12,5%. Países como a Áustria, até pelo tamanho e formação topográfica, tem mais da metade de sua energia produzida por fontes renováveis. Em contrapartida, a Grã-Bretanha, junto com Bélgica, Luxemburgo, Irlanda e Holanda, são os países com menor proporção de energia renovável. A União Européia, como um todo, produzia até 1997, 13,9% de energia com fontes renováveis. A meta é aumentá-la a 22% até 2010.

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