Alckmin se filia ao PSB e acordo para vice de Lula avança; confira o histórico de divergências

Ex-governador de São Paulo e ex-presidente colecionam décadas de ataques trocados; evento de filiação ocorre na manhã desta quarta-feira

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Por Redação
Atualização:

O ex-governador Geraldo Alckmin se filia ao PSB nesta quarta-feira, 23, abrindo caminho para oficializar sua posição de vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. A considerar o histórico político tenso de ambos, a aliança negociada é surpreendente.

As divergências entre o petista e o ex-tucano vêm desde que ambos exerceram mandatos simultâneos na Câmara dos Deputados, entre 1987 e 1991, e, na Constituinte, votaram de formas distintas em muitas ocasiões. À época, o Partido dos Trabalhadores, do qual Lula era líder, rejeitou aprovar a Carta.

Lula se mostrou favorável a formar uma palanque com Alckmin; tucano avalia filiação ao Solidariedade Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo e Gabriela Biló/Estadão

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O ex-presidente relata ter tido uma "relação extraordinária" com Alckmin em seu governo, mas, ao longo de mais de três décadas de convivência, não foram poucas as trocas de ataques. Citações e lembranças das críticas circulam à vontade nas redes sociais. "Vejam a audácia dessa turma... Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder; ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime”, disse Alckmin durante uma convenção do PSDB em 2017.

Relembre os principais momentos em que Lula e Alckmin cumpriram à risca a polarização entre PT e PSDB da qual o ex-presidente diz ter saudade. 

Lula sobre Alckmin: ‘

"Falta comando"

2002 Um ano antes de assumir o Planalto, Lula tentava desgastar o governo Alckmin em São Paulo lançando dúvidas sobre a morte do então prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel. Uma obra recente traz detalhes e conta bastidores deste que foi o mais tenso confronto político entre ambos no início dos anos 2000. Trata-se do documentário “O Caso Celso Daniel”, disponível na Globoplay.

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O filme acompanha a ofensiva liderada por Lula e José Dirceu contra o governador tucano à época, após o assassinato de Celso Daniel, que era visto como o futuro coordenador da campanha presidencial petista e eventual ministro do Planejamento. 

Pré-candidato à Presidência, Lula se revezava diariamente com Dirceu, Aloizio Mercadante e a então prefeita paulistana Marta Suplicy nas cobranças ao PSDB (à frente do Planalto com Fernando Henrique Cardoso) e ao governador.

"Ele (Alckmin) foi comunicado 15 minutos depois que o Celso foi sequestrado. Entretanto, estava fazendo campanha política em São José do Rio Preto. Só foi atender o PT no dia seguinte, às 11 da noite . Se a polícia tivesse recebido uma ordem concreta, teria em meia cercado todas as saídas da cidade. Falta comando", disse Lula, que era presidente de honra do PT.

Alckmin havia tomado as providências e mobilizado as forças de segurança de São Paulo para acompanhar o caso, mas a pressão petista acabou por "emparedar" o governador e o PSDB em um momento de antecipação da campanha. Amigos do ex-tucano lembram que aquele foi o pior momento de sua primeira gestão. 

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"Projeto de desmonte"

2006 Em 2006, quando disputou contra Alckmin o segundo turno das eleições presidenciais, o então presidente Lula disse que seu adversário era um "especialista" na destruição do Estado. "Não é uma disputa entre dois homens ou entre dois partidos. São dois projetos que estão em jogo nesta eleição. Um projeto é o do desmonte, ou seja, daquele cidadão que é especializado em destruir em dois minutos o que a gente construiu em dois séculos". 

Na ocasião, Lula descreveu a candidatura do ex-tucano como a de "um cidadão que joga um monte de dinamites e consegue destruir um prédio em apenas 30 segundos”. 

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'Troglodita da direita'

2010 Em 2010, o então presidente petista comemorou o fato de Alckmin não participar daquele pleito para o Planalto. Citando as eleições de 2006, Lula afirmou que antes os candidatos de esquerda e de centro-esquerda disputavam "contra os trogloditas da direita". 

O petista, à época, disse também que o nível das campanhas havia "começado a melhorar” a partir de 1994, após sua disputa contra Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Já foi um nível elevado. Mas depois, eu e o Alckmin, aí baixou o nível por causa dele", disse.

Alckmin sobre Lula

'Lulopetismo levou o País a ser saqueado'

2016

No lançamento da candidatura de João Doria (PSDB) à Prefeitura de São Paulo, em 2016, Alckmin escolheu o PT como alvo de seu discurso. "Os 13 anos de lulopetismo levaram o País a ser saqueado, literalmente. O PT quer vencer a eleição para se redimir e resolver seus problemas", disse. 

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Depois, no mesmo evento, ao lado do ex-governador paulista, Doria acrescentou: “O PT, partido de Lula e Dilma, deixou um legado maldito".

"Cena do crime"

2017 Candidato à Presidência pela segunda vez em 2018, Alckmin teve a pré-campanha anterior e a corrida oficial marcados por palavras duras sobre Lula. O episódio mais emblemático foi o citado no início deste texto. “Vejam a audácia dessa turma: depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder; ou seja, meus amigos ele quer voltar à cena do crime”, declarou o ex-governador durante um evento do PSDB.

Invasão 

2018 Quando voltou a disputar a Presidência pelo PSDB, Alckmin entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o ex-presidente Lula e o diretório do PT de São Paulo. Na ocasião, o PSDB argumentou que o PT estaria fazendo uso da propaganda dos candidatos a deputado estadual para divulgar a candidatura de Lula. A prática, segundo eles, se enquadrava no que é chamado de "invasão de horário destinado a outro cargo". Mais tarde, em função do processo ligado à Lava Jato (cujas sentenças da Justiça Federal de Curitiba, proferidas pelo então juiz Sérgio Moro, foram anuladas), Lula foi considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2018.

"PT ao inverso"

2019 Em 2019, Alckmin afirmou que o Brasil estava tomado por um clima do ódio durante a gestão Bolsonaro e caracterizou o governo como um “PT de ponta-cabeça” ou um “PT ao inverso”. O ex-tucano e Lula passaram a dialogar em julho do ano passado para a construção de um acordo para 2022. Após décadas fazendo oposição um ao outro, ambos se mostraram dispostos a firmar uma aliança para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em outubro. Com a filiação de Alckmin ao PSB, a união fica mais próxima.

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