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Airbus nega falha em avião da TAM, mas CPI duvida

Por RICARDO AMARAL
Atualização:

O vice-presidente de Segurança de Vôo da Airbus, Yannick Malinge, disse nesta quinta-feira à CPI da Crise Aérea na Câmara dos Deputados que as investigações não apontam nenhuma pane mecânica ou falha nos computadores do avião da TAM que explodiu no dia 17 de julho em São Paulo. O presidente da CPI ainda duvida da afirmação. "Na primeira análise conjunta (dos registros das caixas pretas do avião) não vemos nenhuma pane. Não houve pane mecânica ou falha dos computadores de bordo", disse Malinge, respondendo a uma pergunta do relator Marco Maia (PT-RS). A Airbus é a fabricante da aeronave da TAM que fazia o vôo 3054, um Airbus A-320, que não conseguiu frear e explodiu ao colidir com um prédio no dia 17 de julho quando tentava pousar no Aeroporto de Congonhas, matando 199 pessoas. Foi o maior desastre da aviação civil brasileira. Malinge disse que considera "prematuro" afirmar que a falha no reverso da turbina 2 do avião tenha contribuído para provocar o acidente. Mesmo negando falhas da aeronave fabricada pela Airbus, ele ressaltou que ainda é cedo para indicar as causas do acidente. O presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) considerou "uma estranha contradição" o executivo da Airbus dizer que é cedo para definir as causas do acidente e já afirmar que não houve falha na aeronave. "Não estou convencido com as explicações dele ainda. Não posso afirmar que houve pane mas não estou convencido de que não houve", disse Cunha a jornalistas. Malinge descartou a hipótese, levantada pelo relator Marco Maia, de os pilotos terem posicionado corretamente o manete do motor direito, para fazê-lo desacelerar, e esse comando não ter sido transmitido corretamente ou não funcionado. "Existem vários mecanismos captores da posição do manete. Não houve em nenhum momento registro (nas caixas pretas) de movimento transitório (do manete) para a posição idle (a posição em que o manete deveria estar para o pouso correto)", afirmou o vice-presidente da Airbus. O presidente da CPI continua duvidando, no entanto, que os manetes tenham sido posicionados de forma errada pelos pilotos da TAM, como sugere o depoimento do vice-presidente da Airbus. "Me parece pouco provável que um piloto experiente como aquele tenha esquecido de puxar um dos manetes", disse Cunha a jornalistas. Segundo o vice-presidente de Segurança da Airbus, os registros do acidente não indicam ainda que houve falha no funcionamento dos spoilers (os freios aerodinâmicos que não se abriram na tentativa de pouso) e o motor número 2 (direito) do avião funcionava acelerando a aeronave, conforme a posição do manete de comando. "As gravações mostram que o avião funcionava normalmente no que diz respeito aos spoilers (...) A turbina número 2 funcionava com empuxe, de acordo com a posição do manete", disse Malinge, acrescentando que os freios manuais também foram acionados normalmente pelos pilotos. O executivo da Airbus negou que o acidente esteja relacionado ao alto índice de controle por computadores nos aviões da família A-320, e disse que os pilotos poderiam operá-lo manualmente, se quisessem. "Durante todos os momentos do vôo e da aterrissagem a tripulação poderia adotar a escolha do procedimento manual", argumentou. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) informou que o avião da TAM que explodiu em Congonhas foi fabricado em fevereiro de 1998 e tinha o numero de série 791. O A-320 que sofreu um acidente em Taiwam, em 2004, também com um problema no controle do reversor, tinha o número de série 789, fabricado no mesmo mês, segundo o deputado. "Qualquer que fosse o número sequencial do avião, os mecanismos de controle seriam os mesmos", reagiu Malinge, acrescentando que outros aviões de outros fabricantes também sofreram acidentes em situações em que os manetes estavam na posição errada. Em seu depoimento, o executivo da Airbus reafirmou os termos do último "telegrama de informação de acidente" emitido pela empresa há uma semana, com base na análise das caixas pretas. O telegrama foi distribuído às companhias aéreas que utilizam aviões da Airbus. "Se tivéssemos a menor dúvida de uma falha nos equipamentos teríamos feito essa informação às companhias aéreas", afirmou. O relator quis saber a quem o executivo da Airbus atribuía a responsabilidade pelo acidente, já que não seria da própria Airbus, nem da TAM, segundo a empresa brasileira, nem da pista de Congonhas, segundo o governo. "Se não é responsabilidade da Airbus, se não é da TAM, eu não determinaria qualquer nível de responsabilidade", disse Malinge, citando a legislação internacional sobre investigação e prevenção de acidentes. Ele acrescentou que a decisão dos pilotos de pousar em Congonhas, nas condições em que a pista se encontrava no momento do acidente, "estava em conformidade com as nossas instruções técnicas."

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