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''Ainda há resquício de patrimonialismo ancestral''

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Por Moacir Assunção
Atualização:

O professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA), ex-presidente da Radiobrás e colaborador do Estado, Eugênio Bucci, constata que houve, nos últimos anos, um incremento na utilização de mídias eletrônicas como TV e rádio pelo Estado, em seus diferentes níveis. Alerta, entretanto, que ainda ocorrem graves distorções, causadas pelo que chama de "patrimonialismo ancestral brasileiro", na utilização desses recursos, que deveriam estar voltados a promover a transparência no serviço público. A seguir, trechos da entrevista: O presidente Lula anunciou, em mensagem ao Congresso, que vai criar o programa "O Presidente Responde", por meio do qual pretende falar direto aos cidadãos por meio dos jornais populares. Além disso, os novos presidentes da Câmara e do Senado, Michel Temer (PMDB-SP) e José Sarney (PMDB-AP), anunciaram que vão aumentar a área de atuação de suas respectivas TVs. Com o sr. vê isso? Há, claramente, nos últimos tempos, um incremento na utilização e fortalecimento destas mídias pelos diferentes níveis governamentais. Basta ver o aumento dos gastos com publicidade e divulgação do governo e dos órgãos do Legislativo e Judiciário, além do crescimento das verbas para implantação e desenvolvimento de TVs . É recorrente a crítica dos especialistas segundo a qual os meios de comunicação governamentais no Brasil tendem a se tornar aparelhos de fortalecimento de quem ocupa o poder naquele momento. De fato, a existência de uma mídia pró-governo é um resquício do nosso patrimonialismo ancestral, de uso de recursos públicos para fins particulares. Esta é uma distorção, mas muita gente considera isso normal e não é. As TVs públicas precisam ter autonomia administrativa, financeira e editorial. Caso contrário, não podem ser consideradas públicas. As TVs Câmara e Senado são públicas? A TV Câmara prestou um belo serviço à sociedade na divulgação de várias comissões parlamentares de inquérito (CPIs). No entanto, principalmente em tempos de campanha eleitoral, essas TVs têm sido usadas para a divulgação dos parlamentares eleitos, o que desequilibra qualquer disputa. É o que chamo de corporação de senadores e deputados. Uma TV pública não pode ser partidarizada. O que temos mais próximo de uma TV pública no Brasil ainda é a TV Cultura. Na Inglaterra, a BBC é vista como um exemplo de TV pública, por sua independência editorial. Poderíamos ter algo assim no País? A BBC é um exemplo de TV pública, mas é produto de uma realidade histórica muito diferente do que ocorreu no Brasil. Tem autonomia para se manter independente do governo e do mercado e os ingleses pagam um valor alto para mantê-la. Ainda não vejo amadurecimento no Brasil para a criação de uma cobrança obrigatória para manter uma TV, mas poderíamos ter doações voluntárias com esse objetivo.

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