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Agricultores contra transgênicos em Porto Alegre

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Por Agencia Estado
Atualização:

Durante seu primeiro dia de debates, o Fórum Social Mundial (FSM) teve hoje a marca da reação dos agricultores contra o cultivo de alimentos transgênicos. O coordenador europeu da organização internacional Via Campesina, Paul Nicholson, disse que espera consolidar no encontro um movimento de alianças capaz de forçar uma mudança no modelo neoliberal, que encontra nos produtos geneticamente modificados, segundo ele, um instrumento de implantação. A instituição, que reúne cem entidades de camponeses de quatro continentes - o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é um de seus fundadores- , defende quatro políticas agrícolas principais: o fim da importação de alimentos subsidiados (dumping), o combate aos transgênicos, o uso das sementes como patrimônio da humanidade e a preservação da biodiversidade (sem privatização dos bens naturais). Para sustentar suas posições, o Via Campesina quer a transferência da discussão agrícola da esfera da Organização Mundial do Comércio (OMC) para a Organização das Nações Unidas (ONU). "A agricultura não deve ser parte da OMC", afirmou Nicholson. Ele presidiu hoje um dos quatro painéis principais em que está dividido o FSM, que começou ontem (25) e se estenderá até o dia 30 para servir de contraponto ao Fórum Econômico Mundial, realizado ao mesmo tempo em Davos, na Suíça. Como exemplo da articulação mundial dos movimentos camponeses, Nicholson citou a presença hoje do agricultor francês Jean Bové no acampamento formado ontem (25) na cidade de Não-Me-Toque, a 268 quilômetros de Porto Alegre (RS). No município, quase 1.300 pequenos produtores rurais e sem-terra invadiram uma área da multinacional Monsanto, onde estariam sendo cultivados milho e soja transgênicos. "Quando globalizamos a luta, globalizamos a esperança", comentou. "Uma luta aqui, significa gerar esperança em outros lugares do mundo", acrescentou Nicholson, revelando que o Via Campesina discute a realização, com o MST, de um ato em junho ou julho deste ano. Os manifestantes deixaram hoje a área da Monsanto. Para o coordenador do Via Campesina, a OMC "quer impor o uso dos transgênicos". Com eles, as multinacionais "estão comprando toda a cadeia alimentar", na análise do líder camponês europeu. Esta questão ganhou notoriedade nos países do Terceiro Mundo recentemente, na avaliação de Nicholson, porque as multinacionais pensaram que seria mais fácil impor este modelo na região, onde imaginavam encontrar menor reação, mas os movimentos de agricultores estão contrapondo "grande" resistência. Na Europa, afirmou Nicholson, 80% dos consumidores rejeitam os alimentos transgênicos e os produtos convencionais estão custando mais caro. O Via Campesina representa milhões de agricultores, informou Nicholson. Apenas a organização indiana KRRS reúne cerca de 15 milhões de filiados. O Via Campesina foi criado em 1993 e sua sede está instalada em Tegucigalpa, Honduras. O FSM está estruturado em quatro grandes eixos, tendo um painel por dia para debater cada um deles pela manhã. À tarde, são realizadas oficinas sob a coordenação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e, à noite, são apresentados testemunhos de personalidades convidadas.

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