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'Posso ter cometido erros, mas não cometi crimes', diz Dilma

Presidente afastada afirmou: 'posso ter cometido erros, mas não cometi crimes'

Por Rachel Gamarski , Carla Araujo e Valmar Hupsel Filho
Atualização:

BRASÍLIA - Em suas primeiras palavras públicas após a decisão do Senado de aceitar o processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff reconheceu erros e afirmou que o que mais dói neste momento é a "dor da injustiça". "Posso ter comido erros, mas não cometi crimes", disse.

Ao lado de mais de 20 ministros, deputados, senadores e funcionários do Palácio do Planalto, a presidente afastada fez um pronunciamento de 15 minutos. Dilma reforçou que está sofrendo um golpe e pediu que não desistam de lutar por seu governo. "O que está em jogo não é apenas o meu mandato, é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição", afirmou.

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Dilma lembrou da tortura que sofreu durante a ditadura militar e do câncer que teve em 2011, mas afirmou que nenhuma dessas dores foi mais forte do que a que sofre agora. "Muitos (desafios) pareceram a mim intransponíveis, mas eu consegui vencê-los. Eu já venci a dor da tortura e da doença e agora eu sofro uma dor igualmente inominável, a da injustiça. O que mais dói é a injustiça e é perceber que estou sendo vitima de uma farsa jurídica e política", afirmou.

Ela recebeu a intimação de seu afastamento das mãos do senador Vicentinho Alves (PR-TO), primeiro-secretário do Senado, pontualmente às 10h59. Com isso, ela fica afastada do cargo por até 180 dias até que o Senado decida seu julgamento.

A presidente afastada reforçou, em pronunciamento após assinar a intimação de afastamento por até 180 dias, que a decisão do Senado Federal de abrir o processo de impeachment coloca em jogo o respeito às urnas e às conquistas dos últimos 13 anos.

Ela fez um breve balanço de medidas do seu governo e citou a descoberta do pré-sal, os programas de atendimento à Saúde, "ganhos das pessoas mais pobres", a valorização do salário mínimo, a "realização do sonho da casa própria".

Dilma classificou o processo que levou ao seu afastamento de "frágil, inconsistente" e ressaltou que é uma pessoa honesta e inocente. "Não existe injustiça mais devastadora do que condenar um inocente. Injustiça cometida é um mal irreparável. Essa farsa jurídica deve-se ao fato de que nunca aceitei chantagem de qualquer natureza", destacou.

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Ao lado de mais de 20 ministros, que chegaram antes dela ao local da cerimônia e a aplaudiram em diversos momentos, Dilma afirmou que, desde que foi eleita, parte da oposição inconformada pediu recontagem dos votos e tentou anular as eleições e passou a conspirar para um processo de  impeachment. "Impedindo a recuperação da economia com o objetivo de tomar à força o que não conquistaram nas urnas", disse.

Segundo a presidente, o seu governo tem sido alvo de intensa e incessante sabotagem. "Quando uma presidente é caçada sob a acusação de um crime que não cometeu, o nome que se dá a isso é golpe", disse, antes de reafirmar que não cometeu crimes de responsabilidade e que os decretos citados no processo de impeachment também aconteceram em outros governos.

Lula. Depois do pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff desceu, pela passagem interna do prédio, e encontrou-se com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em frente ao Palácio do Planalto. Os dois se abraçaram, mas não disseram nada. "Não tenho o que dizer neste momento", falou Lula, ao ser questionado pela imprensa. "É um momento muito triste", disse Jaques Wagner. Vários servidores acompanharam a caminhada, chorando. Dilma faz fora do Planalto um discurso aos manifestantes que a esperavam.

Acusações. Dilma Rousseff afirmou ainda que os decretos de suplementação e os decretos de crédito suplementar foram praticados de forma legal, correta e necessária e são idênticos aos que foram executados pelos presidentes que a antecederam. "Não era crime na época deles e também não é crime agora", disse.

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Ao lado de ministros e apoiadores do seu governo, a presidente afirmou que a lei não exige a sua participação na execução. "Meus acusadores sequer conseguem dizer que ato eu pratiquei, nada restou para ser pago e nem dívida há", frisou.

A presidente reforçou que numa democracia, "um mandato legitimo poderá ser interrompido por atos legítimos de gestão orçamentária". "O Brasil não pode ser o primeiro a fazer isso", afirmou. 

Clima. Sob um sol forte, os ministros da presidente afastada Dilma Rousseff a acompanharam durante seu pronunciamento. No espaço reservado também havia muitos deputados. O clima era de tristeza e indignação. Muitos abraços e frases como "não vamos desistir" e "injustiça". Alguns faziam a avaliação do pronunciamento à imprensa que Dilma havia feito e a maior parte o classificava como "emocionante".

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Após a fala dela, muitos servidores e simpatizantes da presidente choravam. No palanque, bem próximo de Dilma, o agora ex-ministro da Educação, Aloizio Mercadante, segurava um buquê de flores para entregar à presidente afastada. Mercadante sempre foi um dos mais fiéis ministros de Dilma.

No público, algumas mulheres exaltavam o discurso da presidente, dizendo que ela era mais forte "do que todos esses homens aí reunidos", em referência ao palanque. Ao repetir que "pode ter cometido erros", pessoas na plateia diziam: "Errou porque é humana, presidente".

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