Afastamento de Vaccari não foi discutido em reunião, afirma presidente do PT

Rui Falcão afirmou que apenas alguns diretórios pediram que pessoas investigadas na Lava Jato sejam afastadas do partido

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Por José Roberto Castro , Ricardo Galhardo e Ana Fernandes
Atualização:

SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse nesta segunda-feira, 30, que não foi discutida na reunião com dirigentes estaduais do partido o afastamento do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. A Justiça Federal aceitou, na semana passada, denúncia contra Vaccari, no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo Falcão, foram apresentadas apenas duas cartas, pelos diretórios de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, pedindo genericamente que pessoas citadas na investigação sejam afastadas.

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Falcão tentou evitar qualquer avaliação pessoal sobre o caso de Vaccari, mas argumentou que "quem é acusado não é culpado". Disse que qualquer iniciativa desse tipo no partido tem de partir de uma decisão coletiva, seguindo os ritos internos. "Não há nenhuma proposta, até o momento, para que o companheiro Vaccari seja afastado de suas funções", afirmou.

Questionado sobre a posição do ex-governador Tarso Genro, que participou de outra reunião com lideranças petistas pela manhã e início da tarde, no mesmo hotel em São Paulo, e que defendeu o afastamento preventivo do tesoureiro, Falcão disse que opiniões têm de ser respeitadas e ouvidas mas que Tarso não apresentou uma proposta em instância formal. "Ele poderá apresentar na reunião do diretório nacional no dia 17 (de abril)."

Sobre o envolvimento do partido com as denúncias envolvendo desvios bilionários na estatal, Falcão repetiu a argumentação de que nenhum diretor envolvido até agora ou delator da Lava Jato é filiado ao PT. Disse também que além do PT, são suspeitas movimentações financeiras para partidos como o PMDB, PSDB e PSB. "Por que para os outros partidos é doação e para o PT é propina?", perguntou.

Volta às origens. Falcão comentou os termos mais polêmicos do manifesto dos diretórios estaduais, divulgado após a reunião. O documento falou no combate ao "pragmatismo pernicioso" e ao "cretinismo parlamentar". Falou ainda em um reencontro com o partido dos anos 1980, retomada da "radicalidade" partidária e aproximação das massas e movimentos sociais, além de citar o apoio à reforma agrária e a uma reforma tributária, com taxação de grandes fortunas.

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é um dos investigadospelo supostoenvolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás Foto: Sergio Castro/Estadão

Falcão afirmou que a "radicalidade" não é de sair "quebrando coisas", mas de retomada das bandeiras históricas do PT. Com relação a política econômica de linha mais ortodoxa, adotada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse haver um consenso no partido que os ajustes são necessários para a retomada do crescimento e que essa retomada é prioritária para o país. "Subir e baixar juros não é questão de princípio para o PT. O importante pra nós é que a população não seja prejudicada com a volta da inflação, do desemprego."

O presidente do PT afirmou que Levy "está propondo um contingenciamento orçamentário que é possível fazer". Mas disse que certos ajustes, como as medidas que tocam seguro desemprego, abono salarial, pensão por morte e seguro defeso, precisam ser negociadas, com o Congresso Nacional e com os movimentos sociais. "As medidas, do jeito que estão, não serão aprovadas na minha opinião", afirmou.

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PMDB. Perguntado se sair da "teia burocrática", do "pragmatismo pernicioso", não exigiria uma revisão da aliança com o PMDB, Falcão foi evasivo. Disse que o PT, como instância partidária, tem que discutir nacionalmente a política de alianças. Ressalvou, contudo, que há poucos partidos programáticos no País e que há realidades regionais muito distintas. "É muito difícil no Congresso, no quadro atual, você ter um quadro de alianças sem o PMDB", justificou. 

Ao comentar as falas recentes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de que o PMDB finge ser governo, Falcão também evitou polemizar. Disse apenas que Cunha é o presidente de uma instituição e que precisa ser considerado. (Ana Fernandes, José Roberto Castro e Ricardo Galhardo) 

O PT defende também no documento que o partido não recue em suas posições e diz que o ódio de classe não o impedirá de "amar" o Brasil. "O ódio de classe não nos impedirá de continuar amando o Brasil e de continuar mudando junto com nosso povo. Esta é a nossa tarefa, a nossa missão."

O PT propõe ainda que se leve a bandeira do combate à corrupção a outros partidos, Estados, municípios e aos setores privados da economia. Segundo o documento, o momento não é de pessimismo, mas de reavivar as esperanças. Entre as proposições, está "lutar pela integração política, econômica e cultural dos povos da América, por um mundo multipolar e pela paz mundial".

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