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Aeronáutica resiste à desmilitarização proposta pelo governo

Ministro Waldir Pires defende controle civil; comandante da Aeronáutica diz que tarefa não é fácil e que causa da crise aérea brasileira não é a militarização

Por Agencia Estado
Atualização:

Mostrando-se contrário à desmilitarização do controle aéreo brasileiro, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, afirmou na tarde desta quarta-feira que a tarefa ´não é simples´ de ser realizada e que o que vem provocando a crise aérea no País não é a militarização, mas a falta de controladores. As declarações de Saito contrapuseram-se às do ministro da Defesa, Waldir Pires, que defendeu de forma contundente a transferência do controle do tráfego aéreo para a administração civil, argumentando, que em quase todos os países do mundo os militares já não atuam neste setor. Os dois prestaram depoimento nesta quarta-feira a uma sessão conjunta da Comissão de Defesa Nacional, Comissão de Turismo e a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados sobre a crise aérea. "Não somos nem a favor nem contra a desmilitarização, estamos cumprindo uma missão constitucional", disse o brigadeiro durante a audiência. Saito disse que não passa de "maldade" a alegação de controladores de que existe "buraco negro" no espaço aéreo brasileiro. "Dá a impressão que isso é terra de ninguém e não é verdade. Buraco negro não existe mesmo quando a aeronave fica fora do controle do radar", afirmou, explicando que nesses casos usa-se o rádio. Segundo o comandante da Aeronáutica, o equipamento responsável pelo controle aéreo não é obsoleto e novos profissionais estão sendo formados para atuarem no sistema. Demissões e punições de controladores Juniti Saito afirmou durante a audiência que não acredita que haverá baixa coletiva entre os controladores militares de vôo, muitos dos quais ameaçam abandonar deixar a Força Aérea. "Não acredito em baixa coletiva. Seria um tiro no pé", afirmou o brigadeiro. Ele relatou ainda que encontrou recentemente com a mãe de um sargento, que, preocupada, lhe perguntou sobre eventuais punições a controladores por causa da paralisação do dia 30 de março passado. "Eu disse e repito: ´Não estando envolvido (na paralisação), não há nada a temer", contou. O brigadeiro admitiu, porém, que é "claro que haverá degradação" com a saída dos que eventualmente forem punidos, mas afirmou que "existem outros planos", sem explicar quais seriam. Saito voltou a dizer que o relatório da comissão criada na Aeronáutica para investigar o acidente com um avião da Gol ocorrido em setembro, com 154 mortes, estará pronto até setembro deste ano. Pires concordou com Saito, porém, neste ponto. O ministro também não acredita no pedido de baixa coletiva de controladores de vôo do Cindacta 1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília, e de outras praças. No último dia 4, o Estado revelou os planos dos controladores. Contrariados com o rumo das negociações com o governo, eles ameaçam aumentar a temperatura da crise. Pelo plano, reafirmado em encontro da associação dos controladores na terça-feira, a ação para forçar o governo a retomar as negociações seria desencadear um processo de pedidos de baixa coletivos dos controladores militares mais antigos - o que representaria a retirada de pelo menos 40% dos 1.500 que atuam no País. Ana Paula Scinocca e Tânia Monteiro, com Reuters

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