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Aécio Neves avisa a PSDB que exige prévias

Insatisfeito com cúpula do partido, governador estabelece até prazo para anúncio de primárias: 30 de março

Por Christiane Samarco
Atualização:

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, comunicou ao PSDB que exige prévias e estabeleceu um prazo para que o partido regulamente o modelo das primárias tucanas: a data-limite é 30 de março e nem um dia a mais. Ele está preocupado com a resistência dos paulistas e se irritou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por conta da defesa da antecipação da escolha do nome tucano, sob a alegação de que a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), já está posta. O que preocupa Aécio é que FHC reclamou do fato de o PT estar correndo sozinho, mas não falou em prévias para escolher o candidato da oposição. O governador entendeu que, se for para apressar a definição sem uma consulta ampla e democrática às instâncias partidárias, é porque o escolhido não será ele, e sim o governador paulista, José Serra. Nesse cenário, caso as primárias tucanas não saiam até março, estará explicitado o racha e o governador vai se considerar "liberado" para articular alternativas que o atendam no processo sucessório. No limite, admite até a hipótese de sair do partido. O governador tem exposto sua estratégia em conversas reservadas e revelou-a ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira, 6 de fevereiro. Lula nunca acreditou que ele pudesse deixar o PSDB, mas levou o governador a sério e o estimulou a seguir adiante. O presidente também quer ter uma alternativa a Dilma, embora toda a aposta dele seja na ministra-chefe da Casa Civil. A alternativa é cultivada com o interesse de rachar o PSDB – o que o presidente Lula não quer é que a sucessão dê em Serra. GUINADA O Planalto avalia que a candidatura Aécio tem potencial para dividir os tucanos a partir de São Paulo. O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), por exemplo, diz que o PSDB "já virou um PMDB, só que de menor tamanho". Refere-se ao velho PMDB, que, a partir do racha interno e da bandeira da ética na política, deu origem ao PSDB. Parte dos tucanos agora entoa discurso semelhante em São Paulo, por conta dos desentendimentos na sucessão da liderança da Câmara. Aécio tem sinalizado que pode pegar este embalo para criar uma nova legenda com insatisfeitos do PSDB, do PMDB e de outros partidos, tanto de oposição como da base aliada ao governo. Mas é no PMDB que a movimentação do governador tem gerado maior expectativa. Peemedebistas não perderam a esperança de vê-lo novamente filiado à legenda, percorrendo o caminho de volta 20 anos depois. As cúpulas da Câmara e do Senado estão convencidas de que, se Aécio entrar no jogo sucessório, mudará todo o cenário. A avaliação geral é que a "guinada" tornaria difícil prever até o impacto sobre as candidaturas de Dilma e Serra. Nas conversas que teve semana passada, em Brasília, Aécio não deixou dúvidas de que levará "às últimas consequências" a decisão de se candidatar a presidente. "Ele saiu da Câmara turbinado pela excelente recepção que teve em praticamente todos os partidos", resumiu o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), assim que o mineiro deixou o Congresso, na quarta-feira, para almoçar com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Com o senador, ele também foi explícito: disse que está disposto a "procurar um terceiro caminho", firmando-se como opção fora da polarização entre Serra, representante dos governos FHC (1995-2002), e Dilma, símbolo dos governos Lula (2003-2010). RISCO Apesar do entusiasmo de peemedebistas de todas as alas com a possibilidade de transformar Aécio em candidato do partido ao Planalto em 2010, o governador mineiro considera esta opção como de "alto risco". Afinal, os próprios dirigentes do PMDB admitem nos bastidores que será difícil fechar todo o partido em torno de um candidato, ainda que este nome seja o do governador mineiro. O cenário mais provável seria o PMDB se dividir entre vários candidatos, como Serra, Dilma e Aécio. ALTERNATIVA Diante disso, o governador mineiro já se articula com caciques regionais do PMDB. A tática, neste caso, não é assegurar o apoio da maioria dos diretórios regionais para garantir o lançamento de sua candidatura pelo partido, e sim sondá-los sobre a eventual montagem de um palanque em torno de seu nome nos Estados. A ajuda do PMDB é preciosa para quem cogita alçar voo por uma nova legenda ou um partido pequeno. É que o PMDB não é o único que está de olho em Aécio. O tucano também está muito próximo do PSB do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Por enquanto, o pré-candidato dos socialistas ao Planalto é o deputado Ciro Gomes (CE), mas setores do partido sonham em filiar Aécio ou, no mínimo, compor a chapa presidencial com o mineiro, caso o governador saia candidato por outra legenda ou um novo partido.

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