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Advogada diz que cliente iria cometer ato terrorista

Por Agencia Estado
Atualização:

A advogada do marroquino Abdel Fatha, preso em São Paulo desde agosto do ano passado, Edite Pimenta, afirmou que ele confessou à Polícia Federal (PF) que estava no Brasil para cometer um atentado, junto com mais três terroristas, contra o consulado dos Estados Unidos em São Paulo. De acordo com Edite, Fatha também confessou, nos interrogatórios feitos pela PF, que era um dos contatos brasileiros do egípcio Mohamed Ali Aboul-Ezz Al-Mahdi Ibrahin Soliman, acusado pelo governo do Egito de práticas terroristas naquele país e preso no mês passado em Foz do Iguaçu (PR). A PF diz que as histórias contadas pelo terrorista são "fantasiosas". De acordo com a advogada, o atentado contra o consulado deveria ocorrer poucos dias antes dos ataques terroristas nos EUA, em 11 de setembro do ano passado, mas foi cancelado porque os terroristas não receberam o dinheiro que uma organização - cujo nome Fatha não revelou - havia prometido a eles. "Meu cliente confessou que não iria agir por ideologia, mas por dinheiro", afirmou Edite. "Quando percebeu que havia sido usado, decidiu desistir do atentado", disse ela. Fatha teria antecipado à PF os atentados de 11 de setembro. Edite afirmou que a decisão de Fatha foi tomada poucos dias antes do desfecho da ação. "Eles já estavam com tudo pronto, mas a mala de dinheiro que havia sido prometida não lhes foi entregue", disse ela. Assim que desistiu do atentado, segundo a advogada, Fatha armou sua própria prisão. "Ele pagou uma soma considerável de dinheiro para que um taxista o denunciasse por roubo na delegacia mais próxima. Sabia que se ficasse solto, depois de desistir do atentado, poderia ser executado a qualquer momento pela organização", revelou Edite. Segundo ela, Fatha conhece muito mal o Brasil, para onde teria vindo orientado pela organização, exclusivamente para realizar o atentado. Ainda de acordo com a advogada, o marroquino fala precariamente o português. Preso por assalto a um taxista, no final de agosto, Fatha passou a ser tratado como informante privilegiado no dia seguinte aos atentados de 11 de setembro em Nova York. Cinco dias antes dos ataques ao World Trade Center, ele entregara três cartas para sua advogada, destinadas à Polícia Federal, e pedira a presença de representantes dos consulados de Israel e dos Estados Unidos, na Casa de Detenção, onde se encontrava preso. Nas cartas, falava que "um grande atentado terrorista" estava prestes a acontecer nos Estados Unidos. Os alertas do marroquino foram tratados com reserva, mas no dia seguinte ao atentado ele foi transferido às pressas da Casa de Detenção, onde se encontrava, para o Centro de Observação Criminológica, presídio com condições especiais de segurança. Interrogado pelo delegado federal César Toselli, logo depois dos atentados, ele disse que entrou no Brasil com passaporte falso, para se juntar a um grupo de militantes islâmicos que atuaria na região de Foz do Iguaçu, no Paraná. Afirmou que se afastou do grupo quando percebeu que "tinham intenções radicais". Justificou o assalto dizendo que precisava do dinheiro para voltar ao seu país, já que o grupo o abandonara assim que ele se afastou. "A verdade só foi revelada nos últimos meses, mas a PF decidiu manter sigilo porque as investigações ainda estavam em curso. Agora, prisão de Soliman deverá revelar os outros lados da história", antecipou a advogada. Fantasias A PF silencia sobre as informações de Fatha. Toselli informou, por intermédio da assessoria de imprensa do órgão, que as histórias do "suposto terrorista" foram "consideradas fantasiosas" pela polícia e "nada acrescentaram" nas investigações sobre o terrorismo no Brasil. A advogada, que forneceu as primeiras informações transmitidas por Fatha aos órgãos de segurança, garante que em seus primeiros depoimentos ele já citava Soliman, chamando-o apenas pelo primeiro nome, de Mohamed Ali. "Foram efetuadas várias prisões na região de Foz do Iguaçu, com base nas informações de Fatha. Ao contrário do que afirma a PF, todas as informações que ele antecipou foram confirmadas", garante. A Agência Estado apurou que o FBI, o serviço de inteligência dos Estados Unidos e agentes de inteligência trazidos pelo embaixada norte-americana no Brasil ouviram Fatha, em várias ocasiões, na cela onde ele se encontra preso, no COC. De acordo com Edite, Fatha disse que organizações terroristas preparam uma nova onda de atentado contra alvos norte-americanos, no mundo todo. Soliman foi preso ao sair de casa, em Foz do Iguaçu, onde mora há sete anos com a esposa e um filho, ambos brasileiros. Ele é acusado pelo governo do Egito de atos terroristas contra cidadãos egípcios e estrangeiros em 1994, provocando a morte de 61 pessoas. Ele está preso na superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde espera o processo de extradição.

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