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Adoção do Gengraf contraria interesses, diz Serra

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Saúde, José Serra, disse que a polêmica em torno do medicamento Gengraf, que evita a rejeição do órgão transplantado, foi causada por "interesses comerciais contrariados". Ele acusou os laboratórios de "alugarem" porta-vozes a fim de defender seus interesses. O Gengraf, produzido pelo laboratório Abott, é registrado como o genérico da ciclosporina. Ele está sendo distribuído na rede pública para pacientes transplantados em lugar do Sandimmun Neoral, da Novartis, comercializado pelo dobro do preço. O ministro reafirmou que a ciclosporina da Abott foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), a vigilância sanitária americana. "Você acha que eles iriam adotar nos Estados Unidos uma ciclosporina que fizesse mal aos transplantados? De jeito nenhum. Acontece que ela é mais barata. Ela ganhou a concorrência pela metade do preço. Então, interesses comerciais foram contrariados", afirmou. Representantes da Associação Paulista de Renais Crônicos afirmam que o Gengraf não tem a mesma absorção no organismo que o Sandimmun Neoral. Consultor da associação, o farmacologista Carlos Zanini disse que os pacientes transplantados correm o risco de perder seus órgãos, caso continuem recebendo a ciclosporina genérica. Para Serra, a associação está atuando como "porta-voz" da Novartis. "Eles (laboratórios que tiveram seus interesses contrariados) alugam porta-vozes para semear de maneira irresponsável receio entre as pessoas", afirmou. Sem vantagem O diretor jurídico da Novartis, Nelson Mussolini, disse que a empresa não precisa de associação de pacientes para defender seus medicamentos. Ele lembrou que o laboratório ficou em terceiro lugar na concorrência vencida pelo Abott. "A Novartis não leva vantagem nenhuma caso o registro da ciclosporina da Abott seja cassado", afirmou. Ninguém foi encontrado na sede da associação para comentar a declaração de Serra. O ministro reiterou que a política do ministério é reduzir preços. "Quando você reduz preços, contraria interesses e aí eles colocam cascas de banana no seu caminho. Mas eu já tenho suficiente experiência nessa matéria, como enfrentar interesses, e não há casca de banana que possa nos atrapalhar", afirmou. Serra esteve no Rio para lançar o Programa de Humanização do Pré Natal e Nascimento em 11 municípios da Baixada Fluminense. A região receberá R$ 600 mil para fazer o acompanhamento pré-natal e o parto de cerca de 42 mil mulheres anualmente. O ministro também assinou termo que destina R$ 1,63 milhão ao ano para a Baixada, dentro do programa Bolsa-alimentação. Duas mil gestantes e oito mil crianças, cujas famílias têm renda de meio salário mínimo per capta, serão beneficiadas pela bolsa na região. O auxílio pode chegar a R$ 45 por família. Campanha O ministro deu tom de campanha eleitoral à parte do discurso do lançamento dos programas. Ele disse que a experiência à frente da pasta da Saúde o ensinou a ter "otimismo a respeito do Brasil". "Apesar de todas as críticas ao sistema de saúde (no início da gestão), nós conseguimos mudar o astral, inverter o movimento, tocar para frente. Acho que é possível fazer isso com muita coisa no Brasil. Tocar para frente. E com aquilo que se dispõe. Hoje será melhor do que ontem", afirmou. Ao fim da cerimônia, integrantes da bateria da Escola de Samba Grande Rio ensaiaram tocar o samba-enredo para o ministro. Mas, ao contrário do seu colega da Educação, Paulo Renato de Souza, que chegou a beijar a bandeira da Beija Flor em recente visita ao Rio, e até arriscou uns passos de samba, Serra deu as costas para a bateria e suas passistas.

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