A batalha judicial em torno da transferência, do Hospital das Clínicas para o Albert Einstein, da equipe mais experiente da América Latina em transplantes de fígado parece ter chegado ao fim hoje. O dia começou com acusações de diretores do HC contra os chefes dessa equipe, os cirurgiões Sérgio Mies e Silvano Raia, que teriam retirado da instituição cerca de mil prontuários de pacientes atendidos por eles. Mies, por sua vez, revelou que deixou o HC por não concordar com a escolha do novo chefe da Unidade do Fígado e que agora se sentia perseguido na instituição. "A nova equipe se desenvolveu na área do pâncreas e não na do fígado", diz Mies. No Einstein, o cirurgião que participou do primeiro transplante de fígado bem sucedido do País, em 1985, continuará operando pelo Sistema Único de Sáude (SUS). Hoje, o impasse foi resolvido com um acordo entre os advogados de ambos os lados que decidiram que os prontuários ficariam no HC e que Mies teria dez dias para fazer cópias. Segundo Mies, os documentos em questão não eram os oficiais do HC e sim prontuários paralelos feitos na Unidade do Fígado, que ele chefiava até o mês passado e que Raia dirigiu por 30 anos. Além disso, o cirurgião afirma que havia retirado os documentos durante vigência de uma medida liminar que lhe garantia o direito de ficar com eles. "Prontuário é prontuário e é um fato gravíssimo tirá-lo da instituição", disse o diretor clínico do HC, Giovanni Guido Cerri. O HC registrou boletim de ocorrência sobre o sumiço dos documentos. Mies disse que o problema deveria ser resolvido na Justiça porque temia que o HC não permitisse que ele fizesse cópias dos prontuários. Polêmica teve início na semana passada A confusão começou na semana passada, quando o cirurgião comunicou que deixaria o HC depois de perder o concurso para o cargo de professor titular para Marcel Cerqueira César Machado. Caso saísse vencedor, Mies continuaria como chefe da Unidade do Fígado. Mies então passou a fazer cópias dos prontuários, mas, segundo ele, foi impedido de continuar. "O valor de ter o controle dos pacientes implica em fazer os transplantes e receber por isso", disse Cerri. Isso porque os cerca de 600 pacientes à espera de transplante do fígado no HC - e que fazem parte da fila única do Estado de São Paulo - são cadastrados pela equipe de Mies. Se todos eles resolvessem tranferir-se junto com a equipe para o Einstein, o HC não teria quem operar. Duas liminares, uma a favor de Mies, outra a favor do HC foram concedidas pela Justiça na semana passada durante a batalha pela posse dos prontuários. "O paciente é responsabilidade da instituição. Se um transplantado vem ao ambulatório e não temos o seu prontuário, não se sabe qual a dosagem dos remédios que ele tem de tomar", diz Telésforo Bacchella, responsável pelo departamento do fígado no HC. Machado está fora do Brasil.