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ACM Neto toma a frente do governador na Lavagem do Bonfim

Bloco do PFL saiu na frente no cortejo de Jacques Wagner, ocupando o lugar que, via de regra, é do governador, mas o grupo se dissipou pouco depois, sob vaia

Por Agencia Estado
Atualização:

No começo, tudo parecia seguir a tradição. A Lavagem do Bonfim, mais importante celebração religiosa da Bahia, comemorada desde 1754, começou pouco depois das 8 horas. Como de costume, a Corrida Sagrada, feita nos oito quilômetros de trajeto do cortejo que viria a seguir, deu início às celebrações - os vencedores foram Manoel Teixeira, no masculino, e Reneide dos Santos, no feminino. Enquanto a corrida era disputada, um concorrido culto inter-religioso era celebrado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Tudo como manda a tradição. Na saída da igreja, porém, os milhares de devotos de Senhor do Bonfim - e de Oxalá, o orixá correspondente no sincretismo religioso -, todos vestidos de branco (a cor do orixá), assistiram à primeira quebra de protocolo. O bloco do PFL baiano, liderado pelo deputado federal ACM Neto, saiu na frente no cortejo, ocupando o lugar que, via de regra, é do governador do Estado - no caso, o petista Jaques Wagner. E o grupo tinha dois notórios faltosos: o próprio líder pefelista Antonio Carlos Magalhães e o agora ex-governador da Bahia, Paulo Souto. "Não havia clima para que eles participassem da festa", comentou um parlamentar do partido, que preferiu o anonimato. A assessoria de ACM comunicou apenas que ACM não estava no Estado nesta quinta-feira. "Ele me disse que vai passar o dia rezando, pedindo pelo povo da Bahia", disse ACM Neto. A atitude do grupo pefelista deixou indignados os políticos da base aliada do novo governo. "Foi muito deselegante da parte deles", comentou o deputado estadual Álvaro Gomes (PC do B). "Dizem que Deus ajuda quem cedo madruga... Saímos na frente para chegar à Igreja do Senhor do Bonfim primeiro", justificou, em tom de brincadeira, o deputado federal José Carlos Aleluia, do PFL. A confusão não durou muito. Cerca de um quilômetro depois da saída do cortejo, o grupo do PFL se dissipou - entre acalorados vaias e aplausos. Muitos dos políticos ali presentes negaram a máxima que diz que "quem tem fé vai a pé" e seguiram de carona até perto da igreja - destino do ápice das comemorações. Daquele ponto em diante, assumiu a frente do cortejo o grupo de Wagner. Com a mulher, Maria de Fátima Mendonça, à esquerda e com seu vice, Edmundo Pereira, à direta durante todo o trajeto, o governador baiano parou algumas vezes para cumprimentar eleitores e fãs - deixando a equipe de segurança que o acompanhava assustada. Na mais demorada parada, Wagner fez menção de entrar no hospital administrado pelas Obras Sociais Irmã Dulce. Não entrou, mas chegou a falar com alguns internos, pelo portão. Uma delas, Antonia Alves dos Santos, de 72 anos, foi às lágrimas. "Quando que eu achei que um dia fosse falar com o governador?" Ao redor de Wagner, boa parte do novo secretariado e dos deputados federais e estaduais do PT e dos partidos aliados. As tradicionais bandeiras vermelhas com a estrela branca no meio, porém, não apareceram. "Esta festa é do povo, não de partidos políticos", disse o governador. No lugar das bandeiras, camisetas, nas quais via-se a nova logomarca do governo, que tem o slogan "Governo da Bahia - Terra de Todos Nós". Participantes Da delegação, o mais animado era o novo secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli. Com uma lata de cerveja na mão e olhando para a multidão - a PM estimou em 600 mil os participantes do cortejo -, ele comemorou. "A festa atrai essa quantidade de gente porque é autêntica, porque mistura fé e cultura", disse. "É com essa combinação que vamos fazer nosso papel no governo." O ministro da Defesa, Waldir Pires, também estava presente, mas ficou um pouco para trás durante o percurso. Fora da proteção da equipe de segurança, foi cumprimentado por muitas pessoas, retribuiu os beijos, abraços e acenos, disse gostar do calor humano - "literalmente", brincou - e preferiu não fazer comentários sobre a crise no setor aéreo. "Aqui, nós renovamos a energia para seguir na busca do melhor para o povo brasileiro." Pouco atrás, vinha o prefeito de Salvador, João Henrique (PDT) - ele, sim, cercado por bandeiras de seu partido. Como de costume, o prefeito parou incontáveis vezes para falar com todo mundo que se aproximava, para alegria dos fotógrafos. João Henrique, evangélico, deixou o cortejo na metade, na Estação da Calçada. "É uma lavagem diferente", disse, antes de deixar a festa. "Estou feliz em poder caminhar ao lado de um governador parceiro." Quando o grupo do PT chegou à Colina Sagrada, onde fica a Igreja do Senhor do Bonfim, ocorreu o momento de maior tensão do cortejo. Recém passava do meio-dia e o termômetro marcava 34 graus. Empurra-empurra e gritaria acompanharam o grupo até as escadarias da igreja. A muito custo, Wagner e seus aliados subiram até a entrada da construção e as baianas, devidamente caracterizadas, passaram a proceder a lavagem. Do alto da colina, o governador acenou para o público, tomou um banho de água de cheiro e foi à entrada da igreja, onde agradeceu pela vitória nas urnas e pediu por um bom ano no governo. Embaixo, quem fazia a festa com a confusão criada pelo grande número de pessoas no local eram os batedores de carteira - estes, sim, tradicionalíssimos no cortejo. Mal o governador foi embora - dali saiu em disparada para o aeroporto, de onde embarcou para Natal (RN), para participar da reunião de governadores com a ministra Dilma Roussef -, 62 vítimas formaram fila para prestar queixa no posto que a Polícia Civil montou perto da entrada da igreja. E a fila não parou de crescer durante a tarde toda.

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