ACM joga toda a culpa em Arruda e Regina

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) apresentou-se nesta quinta-feira ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa disposto a eximir-se de qualquer envolvimento com a violação do painel eletrônico de votação, mas não conseguiu convencer seus pares. O senador Antonio Carlos Magalhães disse ao Conselho de Ética que concorda em se submeter a uma acareação com o senador José Roberto Arruda (sem partido-DF) e a ex-diretora do Prodasen Regina Borges. Magalhães afirmou que não comentou com mais ninguém, além do senador José Eduardo Dutra (PT-AL), sobre a lista dos votos dos senadores, a quem teria feito apenas uma indagação sobre a possibilidade de a senadora Heloísa Helena ter votado contra a cassação do mandato de senador de Luiz Estevão. Em quase seis horas de depoimento, o senador baiano transferiu a responsabilidade para o senador José Roberto Arruda e para a ex-diretora do Prodasen, porém não conseguiu explicar por que não tomou nenhuma providência ao tomar conhecimento da lista com os votos da sessão secreta em que o Senado cassou o mandato de Luiz Estevão (PMDB-DF). Aparente tranqüilidade Aparentando tranqüilidade, ACM disse aos senadores que seu nome foi usado por Arruda sem o seu conhecimento e que não divulgou a violação do painel para preservar a imagem do Senado e não colocar em risco a cassação do político brasiliense. ?Não pedi nem direta, nem indiretamente?, avisou. ?O meu nome foi usado sem o meu consentimento e conhecimento, não consenti nem soube de nada?. A estratégia de defesa de ACM Sua estratégia de defesa ficou clara logo nos primeiros momentos de seu testemunho: preservar a imagem dos envolvidos ? o que incluiu fartos elogios à Regina Borges e ao senador Arruda ? deixando claro, porém, que agiram por iniciativa própria, e convencer seus pares de que, se cometeu algum erro, foi de se ter calado para preservar a imagem do Senado. ?Hoje, com toda franqueza, vejo que fui omisso, devo assumir em defesa do Senado?, disse o senador baiano. ACM apoiou-se nos depoimentos prestados pela ex-diretora do Prodasen e pelos discursos de Arruda para sustentar sua defesa. ?Ela nunca disse que eu falei com ela diretamente sobre o assunto, mas que recebeu a informação por intermédio do Arruda?, afirmou. "Que interesse eu tinha nessa lista??, questionou. ?Eu não faço política no Distrito Federal, não tinha interesse nenhum nisso?, avisou. Recados e imperativos Acompanhado por toda a bancada carlista no Congresso, senadores e deputados, seu testemunho foi recheado de recados e imperativos. Pedindo que os senadores avaliassem o caso com isenção, ele tentou equilibrar firmeza e humildade. Revelia ACM tentou convencer os senadores de que seu nome foi usado por Arruda à revelia e que só soube do fato depois. ?Todos os que me conhecem, mesmo os meus adversários, sabem que eu não delego a ninguém falar em meu nome?, disse. ?Ninguém falaria em meu nome em um assunto tão grave?. Ele frisou que, caso estivesse interessado, teria procurado Regina Borges pessoalmente, pois era uma funcionária com quem mantinha relações cordiais. Usando parte do depoimento da ex-diretora do Prodasen, ele tentou convencer os parlamentares de que Regina Borges teria agido não para agradá-lo, mas sim para agradar Arruda. ?Parece que o prestígio irrefreável não residia apenas em mim, mas em quem fez o pedido?, comentou. ?Está claro que, até receber a lista, eu nunca tratei do assunto.? Em seu testemunho ao Conselho de Ética, a ex-funcionária declarou que se qualquer outro senador lhe pedisse a mesma coisa teria negado e que o fato de o pedido ter sido feito por intermédio do então líder do governo havia pesado na sua decisão. ?Ela falou com o Arruda tarde da noite e de manhã o assunto estava resolvido?, disse. ACM também sustentou que Regina Borges usou seu nome para convencer seus subordinados a ajudarem-na a violar o painel. ?O que houve foi uma coação, ela usou o meu nome para conseguir o que queria?. Lista de votos Em mais uma tentativa de eximir-se, ACM lembrou que a lista de votos não lhe foi entregue diretamente, mas sim a um assessor do senador, que a levou pessoalmente a seu gabinete. ?Se não pedi, porque seria entregue à mim??, perguntou. ?Por isso foi entregue ao Lamoglia?, respondeu, referindo-se ao assessor pessoal de Arruda. O senador baiano contou que no dia seguinte à cassação, Arruda foi a seu gabinete dizendo estar levando uma surpresa. ?Você está sentado??, teria lhe perguntado o senador. ?É claro que estou?, teria reagido ACM, segundo seu relato. ?Ele abriu o envelope e me entregou a lista?, contou. ACM afirmou que não se tratava de uma lista oficial e confirmou que o documento não fora impresso em papel timbrado do Senado. "Eu destruí a lista" O senador baiano disse ter destruído a lista que recebeu de Arruda. ?Tomei uma decisão solitária e destruí a lista?, afirmou. ?Poderia mantê-la em minhas mãos, mas não quis?, acrescentou. ACM disse que, mesmo que ainda guardasse o documento, não poderia divulgá-lo. Preocupação O senador baiano justificou a decisão de não denunciar a violação do painel nem divulgar a lista dizendo ter decidido preservar a imagem do Senado e não comprometer a cassação de Luís Estevão. ?Achei pior para o Senado fazer uma acusação e levantar dúvidas sobre a lisura de uma votação que foi correta?, afirmou. Ele sustentou ter feito um exame de consciência e concluir que fizera a coisa certa. ?Tenho certeza de que a maioria dos senadores não ia colocar aquela votação em risco?, apelou. ?Providências não foram tomadas em benefício do Senado?. Telefonemas ACM deu sua versão para os telefonemas trocados com Regina Borges. O primeiro, sustentou, foi feito a pedido do próprio Arruda, momentos depois de ter recebido a lista de votos. ?Depois, pediu que eu ligasse para Regina Borges pois ela estava em nervos?. Ele sustentou que o próprio Arruda pediu a uma de suas secretárias, Flávia Badaró, que fizesse a ligação e passou-lhe o telefone quando a diretora do Prodasen já estava na linhas. ACM teve a preocupação de rastrear a ligação e informou aos senadores ter localizado a chamada feita de seu antigo gabinete. ?Foram 34 segundos entre fazer a ligação e desligar?, garantiu. ?Eu lhe disse: a senhora tem prestado serviços ao Senado, não deve ficar nervosa nem ter culpa?, lembrou. Para ele, com aquela ligação, Arruda queria comprovar para a ex-diretora do Prodasen que o pedido fora seu. ?Ele quis tranqüilizá-la de uma participação que não existia?. O senador baiano garantiu que naquela conversa não lhe prestou solidariedade. Na ligação que fez de Miami, contou o senador, questionou a nomeação de um executivo para o Prodasen. ?Eu ia ligar para falar do Prodasen e não perguntaria sobre o painel, se tivesse algo a ver com isso??. Arruda O senador baiano elogiou o ex-líder do governo, mas esforçou-se para responsabilizá-lo completamente pela violação do painel. ?Ele prestou um grande trabalho na defesa do governo FHC?, discursou. ?Salvo dizer que ele errou nesse episódio, sua atuação nunca foi maculada nesta Casa?. Regina Borges O ex-presidente do Senado admitiu ter selecionado o nome da ex-diretora do Prodasen de uma lista tríplice e afirmou que, por ela se ter portado com dignidade, a manteve no cargo em seus dois mandatos à frente do Senado. Como estava previsto, ele criticou duas decisões administrativas da ex-diretora que, segundo sua versão, teria sido tomada na presunção de agradá-lo. Uma delas foi a contratação de Altair Menezes, indicação de seu ex-assessor Rubens Galerani, para um cargo no Prodasen. ?Exigi que demitisse, e ela assim o fez?, disse ACM. Em outra oportunidade, Regina Borges teria recontratado ex-funcionários do órgão, já então aposentados, com salários mais altos. ?Eu a convoquei, exigi que demitisse e pedi que isso não mais se repetisse?. Ele fez questão de ler trechos do depoimento em que a ex-diretora do Prodasen lhe fizera elogios. ?Ela me chamou de justo, austero e bravo, frisando que eu nunca lhe pedi nada que não fosse inadequado?, insistiu. Confirmação Segundo ele, pelo julgamento que fazia de seu caráter, Regina Borges deveria tê-lo procurado para confirmar a veracidade do pedido apresentado por Arruda, ou então ter recorrido a outros membros da Mesa do Senado. ?Não estamos tratando de uma pessoa inexperiente, mas de uma profissional respeitada, que conduziu o Prodasen por mais de 10 anos?, frisou. ?Ela não me deu a oportunidade sequer de desautorizar o uso do meu nome?. Para ele, o que se deve questionar é por que ela não o procurou para discutir o assunto. ?Ela é que foi responsável, não eu?. ACM sustentou que ela poderia ter alegado motivos técnicos para negar o pedido. Conversas O senador baiano reconheceu ter discutido, às vésperas da cassação, a situação de Luís Estevão com senadores e deputados. Qualificou tais especulações como uma prática normal diante de votações importantes no Congresso. ?Foram muitos os senadores que me procuraram no meu gabinete, inclusive alguns dos que aqui estão?, afirmou, tentando constranger seus colegas. Segundo ele, Arruda freqüentava seu gabinete como líder do governo, mas durante o processo de cassação todos os políticos fizeram o mesmo. Heloísa Helena O senador baiano tentou desmentir que tenha dito aos procuradores do Ministério Público que a senadora Heloísa Helena teria votado contra a cassação de Luís Estevão, mas fez questão de lembrar ter tratado com ela do assunto. ?O que posso dizer, é que muitas vezes tratei com a senhora sobre a cassação e sempre encontrei o desejo de cassar?, disse. ACM fez questão de relatar conversa que teve com a parlamentar no plenário sobre a intenção de votar de um colega que teria sido convencido por ela a apoiar a cassação de Estevão. ?Não acredito que a senhora tenha votado contra?, afirmou. ?Tive que manter a versão de que não havia lista até que ficasse comprovado que os votos não foram adulterados?, explicou. ?Qualquer lista que apareça, eu serei seu defensor?.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.