PUBLICIDADE

''Ação não tem conotação política''

Para Corrêa, quanto mais trabalha, mais a Polícia Federal é [br]criticada: ?Isso não nos acua?, avisa

Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo
Atualização:

"Quero que digam onde é que está o direcionamento político do nosso trabalho, eu quero que alguém me aponte qualquer conotação de cunho político no pleito da Polícia Federal pelas medidas cautelares nessa investigação", desafiou ontem o delegado Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da PF, em reação às críticas sobre suposto interesse político da instituição na Operação Castelo de Areia. Em meio à pressão de lideranças do Congresso, Corrêa fez uma defesa veemente da corporação. "Quanto mais trabalha, mais a polícia é criticada. Isso não nos acua. Nossa atuação obedece rigorosamente todas as normas internas da PF, que não autorizam conotação de caráter político." O diretor da PF destaca trechos do relatório final do delegado Otávio Russo, condutor do inquérito sobre a Camargo Corrêa. No capítulo 8 do documento em que a PF pede a prisão dos executivos da empreiteira, o delegado Russo salienta: "As conversas monitoradas não falam especificamente de um ou de outro partido, mas de vários deles, portanto sem indícios de favorecimento dirigido." Outro trecho da representação, que Corrêa assinala. "Em consulta à prestação de contas no site do Tribunal Superior Eleitoral pudemos notar que várias empresas do grupo realizaram doações registradas. Portanto, para podermos comprovar documentalmente eventual financiamento ilícito de campanhas políticas faz-se mister oficiar ao TSE afim de confrontar as doações mencionadas nos áudios captados com aquelas efetivamente registradas." O diretor-geral da PF falou ao Estado sobre Castelo de Areia. "Não tem conotação política nem nesse caso nem em outro. A polícia, quando se movimenta, causa desconforto. É da natureza da atuação de repressão do Estado causar desconforto. Os fatos acontecem, a polícia detecta. Ela não cria os fatos, ela relata o que vê. O juízo de valor é do juiz." A Polícia Federal é movida por interesses políticos? Em hipótese alguma. A Polícia Federal trabalha pautada em técnica, investiga fatos e não pessoas. A categoria eventual de pessoas envolvidas nos fatos pode ou não gerar uma interpretação política, mas para quem de direito. Trabalhamos no aspecto de gestão da PF e na qualidade da prova. Queremos eficiência administrativa. Uma prova robusta supera qualquer crítica, esse é o objetivo. Lideranças no Congresso atribuem viés político à ação da PF. Essas críticas surgem em função desse caso concreto (Castelo de Areia). É necessário deixar bem claro, e de forma definitiva, como a polícia tratou essa situação. Houve uma representação pelas medidas cautelares (prisões e buscas). Nessa representação, o delegado (Otávio Russo) relata e fundamenta faticamente os dados coletados na investigação. Eu quero que alguém me aponte qualquer conotação de cunho político no pleito da polícia. Na representação o delegado não faz juízo de valor sobre legalidade ou não de doações. Isso precisa ficar bem claro porque todo mundo atribui à PF a deflagração disso. Mas nos autos são citados partidos políticos e doações "por fora". Na representação final, o delegado apontou exclusivamente crimes financeiros. O que se tornou público é um documento que não é a representação da polícia, mas que é algo legítimo. O juiz (Fausto De Sanctis) destinatário da nossa ação, no despacho de sua decisão, se socorreu de relatórios anteriores da investigação. Na medida em que vai produzindo, a polícia vai relatando. A polícia não pode ser seletiva, se tomou conhecimento de algum fato ela tem que comunicar o juiz. A polícia não pode guardar em apartado alguma coisa de que tomou conhecimento durante investigação. Mas na representação final, pelas medidas cautelares, não houve referência política. O juiz citou partidos com base em documentos da PF. Diante da nossa representação, o magistrado se valeu do acúmulo dos relatórios anteriores sem qualquer juízo de valor quanto a doações. Fundamentou sua decisão e a ela deu publicidade, o que deflagrou esse debate sobre viés político. Aqui não é crítica ao juiz. Ele pegou o conjunto dos relatórios e decidiu. O juiz tem deixado claro que políticos não são o foco da investigação. No dia da operação (quarta-feira) a PF emitiu nota esclarecendo taxativamente que o inquérito trata de crimes financeiros. Na entrevista coletiva só falamos de crimes financeiros. Como querem atribuir à PF uma ação política? Quem é: Luiz Fernando Corrêa Diretor-geral da Polícia Federal desde setembro de 2007 Tem 50 anos e está há 29 na PF. Entre 2003 e 2007 foi secretário nacional de Segurança Pública. Criou, em 2004, a Força Nacional de Segurança Pública

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.