Abraji repudia ataque de Bolsonaro ao 'Estadão'

Entidade reage a ofensas do presidente, que chamou profissionais de 'canalhas' após jornal revelar caso do 'tratoraço'

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Por Redação
Atualização:

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou, em nota, ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro ao Estadão nesta terça-feira, 11. Diante de apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente chamou os profissionais do jornal de "canalhas" e disse que o esquema do "tratoraço" é uma "invenção". 

Série de reportagens do Estadão publicadas desde domingo revelaram um esquema montado pelo governo federal, no fim do ano passado, para aumentar sua base de apoio no Congresso por meio de um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões em emendas de relator (RP9), boa parte delas destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo. Daí o nome "tratoraço", que ganhou destaque nos trending topics do Twitter no domingo.  

O presidente da República, Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio/Estadão

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"Atacar o mensageiro tem sido uma manobra recorrente do governo Bolsonaro. A imprensa tem o dever de cobrar o manejo do dinheiro público - sobretudo durante a maior pandemia da história recente", diz a nota da Abraji.

O flagrante do manejo sem controle de dinheiro público aparece num conjunto de 101 ofícios enviados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional e órgãos vinculados para indicar como eles preferiam usar os recursos.

A Abraji destacou, na nota, que todo gestor público é "objeto de escrutínio" da sociedade e deve prestar contas de suas atividades à sociedade. "Em nome do interesse público, a imprensa assume o papel de fiscalizar a gestão do Estado", diz o texto, que cita ainda a garantia constitucional de livre expressão da atividade de comunicação e a garantia de acesso à informação.

Em seu ataque à imprensa, o presidente afirmou que o orçamento secreto foi inventado: "Eles não têm o que falar. Como um orçamento foi aprovado, discutido por meses e agora apareceu R$ 3 bilhões? Só os canalhas do Estado de S. Paulo para escrever isso aí".

Embora o Orçamento seja votado anualmente pelo Congresso, a operação montada pelo presidente para aumentar sua base de apoio no Legislativo distribuindo esses recursos foi sigilosa. Como revelou o Estadão, a distribuição dos valores foi negociada em gabinetes do Palácio do Planalto, por meio de ofícios para indicar a aplicação do dinheiro e, em alguns casos, sem qualquer registro por escrito. Deputados ditaram para os ministros para onde enviar os recursos, o que comprar e até mesmo o preço que deveria ser pago.

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