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Abin tem divisões e é 'monstro' sem controle, avaliam políticos

Independentemente de ter ou não participação no episódio de escutas, há na agência uma briga cristalizada

Por NATUZA NERY
Atualização:

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é um ninho de conflitos internos e um "monstro sem controle", na opinião de políticos do governo e da oposição.  Acusada pela revista Veja de espionar o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e outros integrantes do Executivo e do Legislativo, o órgão está no epicentro de várias denúncias e sob a mira das instituições atingidas. Veja Também:Entenda as acusações de envolvimento da Abin com grampos Supremo quer que Lula esclareça grampos da Abin, diz Mendes Abin diz que abrirá sindicância para apurar grampos 'Lula terá que tomar providências', diz Garibaldi Grampeado, Demóstenes exige medidas de Lula "Parece haver uma guerra fria interna lá. Parece que há igrejinhas lá dentro disputando poder e isso fragiliza a direção da Abin, como está acontecendo agora", afirmou à Reuters o senador governista Renato Casagrande (PSB-ES). "A Abin tem que perder a ala do SNI (serviço secreto do regime militar). O corpo pode até ser novo, mas o espírito é velho", acrescentou o senador. Independente de ter ou não participação no recente episódio de escutas ilegais, há na agência uma briga cristalizada. O setor de operações, coração do serviço secreto e área responsável pelas investigações da instituição, é alvo de disputas entre diversos grupos. Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Lacerda assumiu a diretoria-geral da Abin no ano passado com a incumbência de exercer mais controle sobre ela. De lá para cá, a agência já foi envolvida em dois casos rumorosos. No primeiro, por ocasião da operação Satiagraha, Lacerda negou o uso de grampos para contribuir com a Polícia Federal. Agora, o tema de escuta ilegal volta à berlinda. Legalmente, a Abin não tem prerrogativa de operar com escutas ilegais. Remanescente do SNI Autor do livro "Ministério do Silêncio" sobre a história do órgão, o jornalista Lucas Figueiredo afirma que "uns conspiram contra os outros" dentro da Abin. Segundo ele, os militares, alguns ainda remanescentes do antigo SNI, têm muita força no departamento de operações. Os servidores da reserva, também chamados de R2, não ficam atrás. De acordo com Figueiredo, os maçons também exercem excessiva influência interna. "A gente tem um serviço secreto que está há 80 anos sem nenhum controle externo. Tem grupos internos que se digladiam pelo poder. Todos os presidentes da República, de Castelo Branco para cá, tiveram problemas com o serviço secreto. A Abin é um órgão com muita autonomia que ninguém nunca conseguiu enquadrar", argumentou o escritor. "Ninguém controla o setor de operações", acrescentou Figueiredo. Para ele, a Abin tem ainda mais poder que antiga KGB, polícia secreta da antiga União Soviética, pois esta era controlada pelo governo. Criada para fiscalizar as ações do órgão, a Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência, do Congresso Nacional, nunca exerceu este papel. Agora, senadores da oposição já pensam em acioná-la para discutir o episódio atual. "Infelizmente, aquilo é um monstro descontrolado", avaliou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que teve telefonema seu para o presidente do STF grampeado. Por conta da reportagem de Veja, a agência abriu sindicância interna e pediu que o Ministério Público e a Polícia Federal apurem o caso.

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